Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Famílias Trevisan e Próspero

Na minha primeira infância, pegando a minha velha Francisco Porto em direção ao centro da cidade, eu,  como toda a criançada do pedaço, evitava passar pela calçada da direita, do lado do casarão do Dr. Paulo Brasil, porque chegando na outra esquina, no cruzamento da nossa rua com a José Bonifácio (atual José Trevisan), havia uma casa velha, carcomida, cheia de vegetação espalhada pelos cômodos, habitada por uma velha desdentada e brava, a bruxa de nossa infância, a Velha Mazurca! Os adultos diziam que aquela casa era mal-assombrada, que em altas noites se ouviam passos e vozes vindos dela.

Uma manhã o bairro foi acordado com o barulho da demolição, aquele “castelo” fantasmagórico estava ruíndo ao chão, levando com seus restos os fantasmas, os passos arrastados, os gemidos angustiantes. E em seu lugar surgiu,  logo em seguida, uma casa novinha em folha, toda pintada de alegria e de vida, que expulsou nossos medos, nossos pesadelos, devolvendo-nos a outra metade do caminho.

E ali vieram morar umas pessoas bonitas, alegres e gentis. Havia um menino-moço magrinho e espevitado, duas meninas de pele rosada, muito bonitas e sorridentes,  um senhor de fino aspecto e sua esposa aloirada, simpática e afável. Era a família formada da união de duas das famílias mais benquistas  e  honradas de nossa mais tenra Itápolis. Ele, o Bepim, também chamado de Bepino, era filho do Sr. Antonio  e de Dona Antonieta Ricci Trevisan, antigo imigrante italiano que morava numa casa acolhedora ali na esquina da Padre Tarallo com a Campos Salles, onde está hoje o primeiro arranha-céu da cidade. Ela, a Dona Maria Olga, era filha do comerciante e industrial de origem calabresa, o Sr José Próspero e da Dona Noêmia Schiavo Próspero. Juntos com Dona Olga e o Sr. José Trevisan, o Bepim de que já falei, vinha também outra filha do Sr. José e da Dona Noêmia, a Dona Carmelina, casada com o Sr. Adauto Mergulhão, o dedicado gerente do Posto de Gasolina Esso, de propriedade do Bepim. Ali naquela casa nasceu o Rouberval, que se juntou aos irmãos José Antonio (o Zezinho), Nilda e Vilma.  O Adauto e a Carmelina tiveram dois filhos, o José Alberto, que quando menino era todo pintadinho de sardas, e o Marcio. E todos eles é que davam vida e alegria à casa nova da esquina.

O Sr. Antonio e a Dona Antonieta Trevisan tiveram vários filhos. A Maria, que faleceu ainda solteira, o José (Bepim ou Bepino), o João, casado com a Luísa, a Luzia, casada com o advogado Dr. Vasco Pestana Franco, cujo irmão, Edésio, foi professor de Matemática no nosso colégio Valentim Gentil, a Ernestina, casada com o Lafayette Mendonça (eu sempre achei que a Ernestina se chamasse Antonieta, vejam só!), e finalmente a Clementina, casada com o Luís Targa. O Sr. José e Dona Noêmia Próspero, tiveram também vários filhos, além da Maria Olga e da Carmelina. O Otávio, casado com a Ana Gardelin, tinha uma máquina de beneficiar arroz ali na Vila Nova; o Olímpio, o simpático marceneiro, foi casado com a Dona Isolina; o Nicolino, guarda-livros, casado com a Dona Elda Barbatti; o Ítalo, no meu tempo dono de um empório ali na Campos Salles, no prédio que foi a loja de ferragens do meu tio Antonio, cujas ruínas só foram demolidas há pouco tempo, era casado com a Dona Iracema Semeghini; o Sílvio, casado com a Dona Claudia Micheletti; e ainda vinha mais uma filha, a Adelina, que era casada com o Sr. Alberto Renesto, o Bertinho. O fabricante de colchões, Sr. José Próspero teve muitos netos. Além dos filhos da Maria Olga e da Carmelina, tomavam-lhe a bênção o José, a Norma, o Nestor, o Plínio e o Heitor, todos filhos do Otávio, aquele da Vila Nova; depois vinha a penca do Olímpio: o Ovídio, o José Carlos, meu grande amigo Zé Triplex, o Nilton, locutor da ZYQ4,  a Dirce, a Nadir e a Noêmia. Do Nicolino e da Elda vinham o Ayrton, a Carmen Noêmia e a Marielda. Já a Sandra, a Edméia e o José Artur eram os filhos do Ítalo com a Iracema. Do Sílvio e da Cláudia  vêm o Carlos Alberto e a Sílvia. A Adelina e o Bertinho deram ao Sr. José e à Dona Noêmia, os netos Nancy, Geraldo José e Magda.

Foto de 1927 - Sala de visitas da Agência Chevrolet

Da esquerda para a direita, sentados: Antonio Trevisan, João Cardilo-Inspetor da Chevrolet, José Trevisan-Diretor da Agência e Erasmo Pousa.

Em pé: Roque Lapenta e Antonio Cominato

Do lado do Sr. Antonio Trevisan e de dona Antonieta, uma netaiada que só vendo: os quatro do Bepim (Bepino), os sete da Luzia, a saber, Antonio (o Poca), Regina, Maria Conceição (Maiota), Maria Cecília, que foi minha namorada, o Vasco, o Plínio e o Silvinho (Toinho). A Dona Luzia, cuja casa em São Paulo eu frequentei, era de uma beleza incomum, costumavam compará-la com a grande e belíssima atriz italiana. Pola Negri. Da  Ernestina e do Lafayette um neto, o Antônio Trevisan Mendonça; a Clementina deu a eles dois netos, o Heitor e a Luci.

O Bepino (Bepim), hoje é nome da rua em que morava e na qual mantinha o Posto Esso, a agência e a oficina Chevrolet. Ele foi prefeito de nossa cidade no período entre 11 de novembro de 1932 a 29 de setembro de 1933. Seu filho, o José Antonio, o querido Zezinho Trevisan, foi nosso vice prefeito por duas vezes, atuou por longo tempo como Secretário Geral da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, foi membro do Conselho Estadual de Educação e Secretário de Transportes de Campinas. A Vilma e a Nilda foram minhas coleguinhas na famosa Escolinha da Dona Mazé, a Vilma casou-se com um grande e querido amigo, o Osvaldo Cavicchioli, que foi embora bem cedo deste mundo. A Nilda casou-se com um moço de Borborema, que tinha sobrenome de placa de rua, o dentista Durval Rodrigues Alves, já falecido.

Eis aí o retrato, em modestas pinceladas, de duas das famílias mais numerosas e atuantes de nossa Itápolis dos antigos tempos, cujos descendentes estão aí para perpetuarem seus nomes e honrarem sua viva lembrança.