Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

A minha mais tenra Itápolis II

A minha mais tenra Itápolis, a Itápolis dos anos 30, tinha um poeta de renome, poetava bem o Pero Neto. Infelizmente não o conheci pessoalmente, soube de sua existência por uma placa de rua lá pras bandas do Hospital de Misericórdia. Mas conheci seu irmão, o ilustre professor Rômulo Pero e seus versos, que eram publicados vez por outra no semanário “O Progresso”, composto, editado e impresso pelo Roberto Del Guércio, com a colaboração sua esposa, dona Nina Compagno Del Guércio. A sede do jornal era na antiga Avenida XV de Novembro, hoje Valentim Gentil, nos fundos da papelaria do mesmo dono, que ficava bem defronte ao portão de entrada e saída dos alunos do antigo Ginásio Estadual e Escola Normal. O Progresso circulava aos domingos, tinha em média 8 a 10 páginas que se distribuíam entre notícias do município, proclamas de casamentos, notinhas de aniversários, nascimentos e notas de falecimento. Em suas páginas podiam se ler também notícias do Oeste F.C. e dos eventos esportivos do Ginásio. Também era comum encontrarmos textos literários, poemas e comentários culturais. Havia pouquíssimos anúncios, o que tornava a leitura agradável e proveitosa. Nas páginas de O Progresso apareciam poemas do Professor Aureliano de Franceschi, cheguei a ler alguns da lavra do secretário do Ginásio, Sr. Nelson Abade, assim como da professora de canto orfeônico Dª Joanita Vanicore Senatore. E a dona Nina de vez em quando publicava seus versos singelos. Lembro-me de passar todas segundas feiras na casa da tia Bibi pra apanhar os jornais da terrinha, que eles liam no domingo.

Eu disse jornais, não foi? Pois é. Apesar de ainda pequena em tamanho, Itápolis, embora ainda bem tosca, tinha dois jornais. O Progresso e A Ordem! Até hoje quando leio a faixa de nossa bandeira, lembro dos dois jornais da minha terra natal: “Ordem e Progresso” A “Ordem” era composta, editada e impressa pelo Sr. José Gentile, pai do Carlito, do Gegé, da Minita, e de mais uma penca. A linha do jornal a “Ordem” era um pouco diversa de o “Progresso”. Tinhas suas notícias sobre a cidade, sobre os homens que se destacavam na política, estampava proclamas de casamento, notinhas de aniversários, mas caprichava nas notas de falecimentos, pois no prédio que começava com a papelaria, na esquina da Rua Padre Tarallo com a Avenida Francisco Porto e terminava no meio do quarteirão da Francisco Porto, onde estava instalada a tipografia, abrigava no meio o Serviço Funerário, chamado “A Magnólia”, uma das atividades desenvolvidas pelo Sr. José Gentile. Destacava-se “A Ordem” pelos anúncios religiosos detalhados, com horários das missas e demais atividades, sempre enfatizando a importância da fé e da religiosidade. Nesta época, a cidade de Araraquara, carro chefe de nossa região, tinha apenas um jornal, “O Imparcial”.

Nesta década ocorreu no Brasil um movimento político e para-militar, conhecido como “Ação Integralista” , movimento ultranacionalista, ao figurino do fascismo de Mussolini e do nazismo de Hitler. Como Itápolis era uma das cidades com numerosa colônia italiana e como o chefe da Ação Integralista, Plínio Salgado era casado com uma filha de Taquaritinga, o movimento ganhou força em nossa terra. Meu pai, filho de italianos e seus amigos todos vestiram a farda verde-cáqui, com o dístico pregado ao braço e perfilavam diante da sede do partido, na Francisco Porto, num prédio situado entre a rua Padre Tarallo e a rua Rio Branco. Mas este assunto, assim como o papel dos jornais locais e dos professores do Valentim Gentil diante deste movimento, será tema de nosso próximo encontro, pois é vasto e interessantíssimo.