Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

A minha mais tenra Itápolis

A minha mais tenra Itápolis é a dos anos 30! Década em que  vivia um clima de grande desenvolvimento, de fazendas de café exuberantes, comércio super ativo, crescimento exemplar. Lembro-me da Av, Campos Salles de trânsito agitado, com seus cavaleiros, seus troles e semi-troles, carroças de carga, carros de boi transportando café, suas charretes, seus Ford de Bigode, seus Chevrolet  Cabeça de Cavalo. A mãe da gente avisava: “Cuidado pra atravessar a Campos Salles!” As ruas ainda não eram calçadas, só havia as guias de sarjeta feitas com pedras da própria “cidade das pedras”. Havia 3 padarias: a do Santarelli,

 a do Manoel Borges-a Lusitana e a do Sr. Samuel Garnier;. Na Rua Barão do Rio Branco pontificavam o Cine Theatro Central, do Polachini e o Boulevard, bar do Chico Guzzi. Ainda não haviam construído o convento rodeando a Matriz. Ao redor dela havia um jardim sempre florido e bem cuidado. Atrás dela um ponto de “carros de praça”. A praça Pedro Alves de Oliveira era linda, cercada de arbustos entrelaçados, tendo ao centro um coreto magnífico, onde a Banda Municipal, regida pelo maestro Rafael Del Guércio tocava nas suas retretas. O fórum era onde é hoje o Museu. A praça Cônego Borges era um terreno nu, que atravessávamos pra ir à Escolinha da Dona Mazé, na esquina da Praça com a Avenida dos Amaros.

Não existiam bairros, nem casarões suntuosos. As casas eram  de tamanho normal, com quintais enormes, verdadeiras chácaras, com muitas mangueiras, cajueiros, jaqueiras, parreiras de uva. Dois córregos atravessavam a cidade, um que vinha cortando as avenidas, passando entre a antiga rua 13 de Maio (hoje, Rua Ricieri Antonio Vessoni) e a Rua

Prédio da "Máquina de Café" do Butarello

 José Bonifácio (hoje, José Trevisan)  e o outro “rio”, vinha cortando os lados da Vila Nova e ambos se juntavam na quadra entre a Avenida Florêncio Terra, rua 13 de Maio  e a rua José Bonifácio. Estes córregos eram popularmente chamados de “Rio da Carlota”  e o outro

 

“Rio das Bostas”, porque levava embora o esgoto da cidade. Havia várias máquinas de beneficiar arroz, várias de beneficiar café, havia a serraria do Nenê Cavalieri, alimentada por toras gigantescas trazidas por caminhões com reboque. As toras vinham das matas virgens que circundavam a cidade

 Itápolis era  florescente, próspera, alegre e hospitaleira e já se adiantava a todas as cidades vizinhas (Ibitinga, Tabatinga,  Borborema, Novo Horizonte, Itajobi). Porque Itápolis já tinha seu Ginásio e sua Escola Normal! Fundados e inaugurados em 1929! Obra de seu ilustre filho, o Deputado Estadual Dr. Valentim Gentil, que trouxe esta riqueza pra cidade! Isto era motivo de inveja na redondeza. Por isto a velha Itápolis abrigava várias pensões de estudantes, vindos das cidades vizinhas. Por muitos anos isto foi assim.

Prédio da Escola Normal que, através do Decreto-Lei nº 20.405, de 05 de abril de 1951, passou a denominar-se Colégio Estadual e Escola Normal "Valentim Gentil" e, pela Lei nº 4.751, de 23 de maio de 1958, se transformou no Instituto de Educação "Valentim Gentil"

Quando me formei no Curso Científico e no curso Normal, em 1951, Tabatinga, Ibitinga, Borborema, Novo Horizonte e Itajobi ainda nos mandavam seus estudantes.

 

Era o querido e respeitado EE “Valentim Gentil” de hoje! O octogenário que já foi “Ginásio Estadual e Escola Normal de Itápolis”, depois, “Colégio Estadual e Escola Normal Valentim Gentil”, ainda foi “Instituto de Educação Valentim Gentil”

E seu nome é a justa homenagem  ao homem que  trouxe para Itápolis esta fonte de  progresso e de cultura. Valentim Gentil, o político honrado de  respeitáveis tempos! Homem público que marcava suas ações por exemplar humildade e  que encheu de orgulho o  povo de nossa terra!