Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Personalidades itapolitanas

Antonio Compagno, que participou ativamente da vida do Hospital de Misericórdia desde a sua fundação, onde foi mordomo e sucessivamente tesoureiro e provedor. Salientou-se na política local como um dos membros de Diretório de Partido e, em 1932, numa fase amarga da política itapolitana, junto com outros homens de valor, foi escolhido para fazer parte do Conselho Consultivo, atuando inteligentemente até 1936, quando o respectivo Conselho foi extinto pelo ditador Getúlio Vargas

Ao fazer minha memória buscar reminiscências da minha mais tenra Itápolis, como quando minhas lembranças vagueiam pelas ruas, avenidas, praças, quando extrai do passado pessoas que povoaram minha infância, minha juventude, a maioria já distante de nosso mundo, é como se a velha Itápolis se reerguesse no tempo, com suas casas, suas varandas, seus jardins, suas cadeiras nas calçadas.

Prédio da Papelaria Gentile, na esquina Rua Padre Tarallo, esquina com Av. Francisco Porto(2011-Belle Époque)

Eu vejo caminhando o Sr. Antônio Compagno, com a Dona Carmella, naquele páteo atijolado coberto por uma parreira enorme; numa esquina qualquer surgem figuras como a do Adauto Mergulhão, gerente do Posto Esso, do Bepin Trevisan, na outra calçada, mãos cruzadas pra trás, olhando para o chão com ar pensativo, o Sr. Constantino Monzillo, que logo para na porta da alfaiataria do Arthur Caetano da Rocha, exímio violonista a dedilhar seu pinho. Transporto-me ao centro e me vejo naquele quarteirão fervilhante que abrigava o Ponto. As pessoas diziam apenas “o Ponto”, que era onde estacionavam as jardineiras, os ônibus, à espera dos futuros viajantes, dos passageiros de rápidas andanças. Ali era fácil ver chegando à Livraria e Papelaria Gentile,  o  Sr. José que, além da papelaria, tinha uma empresa funerária com o romântico nome de “A Magnólia”, a flor de vários matizes que veio da longínqua ilha de Java; o Sr. José Gentile, homem que eu respeitava muito, pelo seu ar austero, por sua religiosidade, tinha também uma tipografia, onde ele fazia imprimir o seu jornal “A Ordem”. Da esquina da Padre Tarallo com a Francisco Porto via-se uma sequência de prédios que só terminava na casa da família Gentile. E, embutida nestes prédios ficava a casa do João Gentile e suas duas irmãs, mulheres de um recato admirável, raramente vistas nas ruas, poucas vezes à janela alta na lateral da papelaria.

Aqueles dois quarteirões da Padre Tarallo eram o território dos Gentil/Gentiles,  com duas famílias ligadas por laços sanguíneos, e outra indiferentemente desgarrada, mas plantada ali, naquele território de “gentis”. De lá de perto da Florêncio Terra vinham os Raffaele, o Mário, o Rafael (que tinha mais um filho que omiti na crônica passada, o Cléber, irmão caçula do Nicolinha e do Marinho), chegavam ao Sr. José e seus irmãos, e por uma espécie de predestinação, uma das últimas casas da rua, já lá pelas bandas do Almoxarifado Municipal, tinha o último Gentile da Padre Tarallo, o Sêo Chico”!  Irmão do Sr. José e ainda do Pedrinho e do Luizinho, que se avizinhavam com a redação da “A Ordem”, o Sr. Francisco Gentile, casado com uma mulher incrivelmente sábia, a Dona Izaltina, era pai do meu mais chegado amigo de juventude, o Geraldo, e da Cotinha, uma graça de menina. O Sêo Chico Gentile foi por longos anos o tesoureiro de nossa Prefeitura Municipal. Dona Izaltina pertencia à família César, donde vinham as excelentes alunas do nosso colégio, a Iraci e a Irani. O Geraldo preferiu não sair da terrinha como fizemos nós, seus colegas. Fez carreira no magistério  e acabou galgando postos de direção e se casando com a Janair Butarello, também voltada paras as coisas do ensino.