Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Nosso Patrimônio

 Estamos no limiar do 150º ano desta cidade que já foi pedra, café de primeira, granjas em abundância, bombas de poço, laranja em produção de repercussão nacional, que já teve aeroplanos, teco-tecos, aviadores e pilotos,  ultraleves, que já orgulhou seu povo com escolas de alto nível de ensino, que já salvou muitos de seus habitantes e gente vinda de outras plagas pela atuação brilhante de  um corpo médico modelar, que já teve muitos músicos, artistas, vida social intensa, bailes de formatura memoráveis, uma sala de cinema espetacular, uma rua de comércio, a Campos Salles que não ficava

Escritor e Historiador Júlio da Silveira Sudário

Maestro Raphael Mercaldi Cartão de visita de Leão Machado-Sub-Chefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo, respondendo pela Chefia do Palácio dos Bandeirantes-SP, no Governo de Laudo Natel

Humorista Geraldo Alves(Baianinho, como era conhecido pelos seus amigos)

atrás dos grandes centros, que, no começo do século passado falava línguas, dialetos e sotaques vindos do velho e do velhíssimo mundos, que teve poetas como Pero Neto, Júlio Sudário, Leãozinho Machado, maestros como Raphael Mercaldi, uma dupla sertaneja de prestígio internacional, os Irmãos Fortuna, um letrista de modas e guarânias, José Fortuna, de encantar este imenso país. Esta terra de quase 150 anos teve um Geraldo Alves,  o

O inesquecível José Fortuna, na Peça Teatral "Voz de Criança"

inesquecível “Baianinho” que nunca esqueceu sua terra natal, um Wilson Miranda, que vendeu sorvete na Campos Salles, depois foi brilhar na noite carioca com sua voz romântica, que teve um instrutor de voo, no Aero Clube, que conhecíamos como Macedinho, que deixou os teco-tecos pra trás e virou Macedo Neto, produtor de TV, ator de novelas na Tupi de São Paulo, na TV Rio e TV Globo e foi o último marido da maravilhosa Dolores Duran. Esta terra não é como as outras, seus filhos brilham por este mundão de Deus e por isto ela é muito conhecida.

Já rodei mundo, já conheci lugares e gente de inúmeras espécies e nunca, ao mencionar o nome de minha terra, Itápolis, nunca tive que ouvir “Onde é isto?” , ouvi sim muitos “Ah, eu conheço! ou “Ah, já passei por lá”, “Já estive lá”  ou “Já ouvi falar”.  Nossa terra é pequena, comparada aos grandes centros, mas é como uma menina prodígio que não passa despercebida. Nossa terra é aconchego dos que voltam, ninho que aquece os que voaram desde manhã e buscam o descanso do dia. Nossa terra é doce lembrança para os que, como eu, partiram um dia e não conseguiram voltar, porque a vida levou pra mais pra lá.  Nossa terra é motivo de orgulho quando falamos dela e contamos aos habitantes da “selva de pedra” como eram os seus quintais, seus abacateiros, limoeiros, suas frondosas mangueiras de manga espada, manga rosa, manga coco, manga burbom, manga coração de boi, laranja pera, laranja lima, laranja lisa, laranja cravo, laranja seleta, laranja baiana, lima de bico, cajueiros de caju vermelho, de caju amarelo, de pomares ricos como o do Sr. Lutaif, como o de meu Nono, como o do Balthazar, como o do Salim Haddad, também chamado de Salim Ferreira. Já deixei muita gente com água na boca ao falar-lhes dos nossos imensos quintais.

Nestes 150 anos nossa terra já teve de tudo! Imigrantes de fala enrolada, de nomes estranhos como o Missislawa Kinestautas, que o povo simplificou pra Stanislau. Os itapolitanos já viram vestes estranhas, saborearam comidas diferentes, ouviram canções e versos de estranha sonoridade. Neste seu longo viver houve brigas políticas, até mortes por isto, houve a história triste dos seis irmãozinhos que morreram com um raio e seus sete túmulos de mármore branquinho se enfileiravam numa das ruas perto da capela do nosso velho cemitério, onde barões holandeses foram enterrados, teve  túmulos que atraíam romarias, teve padres e frades que nos guiaram para o bem, pastores que eram exemplos de boa conduta, juízes que não mostravam o rosto para não criar intimidades suspeitas, comerciantes que eram amigos antes de tudo, grandes professores, funcionários públicos exemplares, médicos, advogados, contabilistas, desde os antigos guarda-livros, pintores de parede, eletricistas, encanadores, pedreiros, carpinteiros, marceneiros, barbeiros, cabelereiras, costureiras, alfaiates, telefonistas, caixas de lojas, balconistas, farmacêuticos, enfermeiros, carroceiros, choferes de praça (nossos antigos taxistas), padeiros, lixeiros, radialistas, policiais, carcereiros, oficiais de justiça, coletores federais e estaduais, cartorários, despachantes, carreiros, tropeiros, enfim toda esta infinidade de irmãos em Deus, que serviam à comunidade sabendo ser antes de tudo grandes amigos,  colocando a amizade acima do lucro.

A aniversariante do mês merece os parabens de seus filhos e afilhados, porque mantêm a chama da operosidade, do empreendimento, da criação, sabendo conquistar novos títulos, gravando na pedra donde brotou  novos slogans, novos ícones. Que as comemorações desta efeméride, palavra que exprime o que passa logo, que as festas para nossa terra sirvam para solidificar o espírito de união, de grandeza de alma, de amor ao próximo sob as asas do eterno padroeiro, o Divino Espírito Santo, assim seja!