Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Celli, Rondelli, tutti insiemi"

Na minha mais tenra Itápolis era assim mesmo: Celli, Rondelli, todos juntos. Eram famílias estabelecidas na cidade desde o século XIX, desde os fins dos 1800. Conheci todos eles e quem não os conhecia? Alguns tinham maior destaque por conta do que faziam fora de casa, outros eram mais recatados.

Tomemos como ponto de partida o casal que formou a família Rondelli. Vieram ambos da Itália, ela da Calábria, ele da cidade de Corleone, na Sicilia. Dª Maria Celli e o Sr. Giulio Rondelli moravam numa casa com um belo jardim, cheio de folhagens, uma varanda de entrada embutida entre dois quartos com largas janelas, na antiga Rua Rui Barbosa, atual Odilon Negrão, entre a Capitão Venâncio Machado e a Eduardo Amaral Lyra.  Há algum tempo passei por lá, a casa continuava a mesma, mas virou Escola Fisk, de inglês.

Naturalizados brasileiros, se tornaram Júlio e Maria. Tiveram quatro filhos homens e uma menina.

O casal Rondelli: Belmiro e Tia Bibi

O mais velho eu conheci trabalhando na loja de ferragens de seu tio, irmão de Dª Maria, o Sr. Antonio Celli. Era uma grande loja situada na antiga Rua José Bonifácio, hoje José Trevisan, próxima da Av. Florêncio Terra, Mais tarde, aquele moço que me vendeu algo que meu pai mandou comprar, virou meu tio, casou-se com a irmã do meio de minha mãe, a tia Bibi, passou a ser então meu tio Belmiro. Logo depois que se casou, fundou a Casa Rondelli, grande estabelecimento situado na esquina da Av. Francisco Porto com a Rua Padre Tarallo, onde comercializava presentes finos, ferragens e material de construção. 

O casal Rondelli: Belmiro e Tia Bibi no dia de sua Boda de Ouro

Belmiro e Abgail, nome da tia Bibi, tiveram três filhos, a Cacilda, a Heloisa e o Belmiro Jr. Belmiro pai firmou-se como um grande comerciante, entrou para a política, elegeu-se vereador, tornou-se rotariano, desenvolvia várias atividades, enquanto que a Dª Bibi trabalhava na Escola Valentim Gentil como professora de Prendas Domésticas e Trabalhos Manuais, tornando-se muito popular entre as alunas, principalmente as normalistas.

Cacilda, Heloísa e Belmirinho Rondelli

Moraram inicialmente numa simpática casa situada na Av. Eduardo Amaral Lyra, entre a Rua Barão do Rio Branco e a Odilon Negrão, onde nasceram a Cacilda e a Heloisa, depois se mudaram para a casa anexa à loja, onde nasceu o Belmirinho, como é conhecido até hoje. Mais tarde, aproveitando o grande terreno de sua casa, construíram uma casa nova, onde passaram a morar até o fim de suas vidas,

O Sr. Júlio Rondelli tinha vários irmãos e uma irmã que levava um nome no mínimo curioso: Giusepina Cora Anondelia Gesualda della Rocca, que, por ter nascido no navio que os trazia, quando passavam pelo mar em território americano, foi registrada como cidadã estadunidense.

Além do meu tio Belmiro, o Sr. Júlio e Dª Maria tinham o Nilo, casado com Dª Nicolina Pero. Irmã do poeta Pero Neto e do professor Rômulo Pero.  A esposa do Nilo tinha o simpático apelido de “Moça”. Moravam, naquela época, numa casa anexa à Casa Rondelli, mas na Rua Padre Tarallo.

Moça e Nilo tiveram os filhos Neuza e Júlio Rafael, outro filho do Sr. Júlio era o Osvaldo, que morava em São Paulo; era casado com uma moça de nome Odete e tinha um filho, de nome Júlio.

 

O caçula dos homens era o Tucha, apelido do Armando Rondelli, que foi casado com uma filha do Sr. Ernesto Di Cunto, a Norma, que era irmã da Dª Bela e da Dª Lilita, esposas do Brusqui e do Jaci Tucci, respectivamente. Norma e Armando tiveram um filho, o Fernando. A única filha do Sr. Júlio era a Catarina de Lourdes, casada com o Alduíno Pinotti, irmão da Afra, da Óldera, da Angelina e da Josefina. Dª Lourdes, como era conhecida, era professora e tinha uma filha de nome Cristina. Alduíno trabalhava no Banco de São Paulo, do qual acabou gerente.

A família Rondelli tinha um vínculo muito forte com a conhecida família Celli, pois Dª Maria era irmã de Dª Dorotéia Celli Becker, esposa do bancário Arlindo Becker, com quem tinha duas filhas, a Maria Helena e a Maria Elisabeth. A família Becker morava numa casa situada na Rua Rui Barbosa (Odilon Negrão) no mesmo quarteirão da casa do Sr. Júlio. Outra irmã da Dª Maria era a Dª Tita, cujo verdadeiro nome era Luiza Ana Celli Ramalho, casada com o Sr. José Ramalho.

 Bar do Nino -Av. Pres. Valentim Gentil  esquina com Pe. Tarallo, propriedade de João Celli, o popular "Nino Celli"

Eles moravam numa casa na esquina da Rua José Bonifácio, hoje José Trevisan, com a Av. Florêncio Terra, casa que continua da família, mantem seus móveis intatos e lindos dos velhos tempos e é onde mora a Vera Ramalho, filha do casal, que tinha a Inezinha como irmã e os irmãos Geraldo, José Bonifácio e Lázaro Evangelista, que no meu tempo de jovem era conhecido como Lazinho Ramalho, era funcionário do Cartório do Sr. Basílio Nino, que funcionava no piso térreo do sobrado da Dª Chiquinha. O Lazinho esteve um bom tempo trabalhando fora de Itápolis e quando voltou, veio trazendo um apelido de sua própria criação, Dr. Parra. 

 

Outro irmão de Dª Maria era o Sr. Antônio Celli, o dono da Casa Celli, já mencionada aqui. O Sr. Antonio era casado com Dª Carolina Marins, conhecida como Dª Lola, mãe da Nereide, que se formou como professora de História e foi minha mestra no Colégio Valentim Gentil, casou-se com o Edu Teixeira de Mendonça; outra filha dela, a caçula, era a Ana Maria, que ainda estudava quando saí de Itápolis.

Dª Maria Rondelli era também irmã de Dª Maria Teresa e do Nino Celli, um dos itapolitanos mais simpáticos e populares da cidade, dono do Bar do Nino, casa de grande movimento situada na esquina da Padre Tarallo com a Valentim Gentil, bem atrás do convento. Outro Celli muito popular e querido era o famoso barbeiro José Celli Filho, o Zezé, cujas boas histórias estão contidas no volume 1 de meu livro.

O Sr. Júlio Rondelli tinha uma sobrinha de nome Luiza, casada com o Sr. Modesto Sanchez, cujo filho, o Tico, apelido do Modesto Jr, frequentava Itápolis em suas férias, hospedando-se na casa do Sr. Júlio. Nossa amizade se estende até nossos dias, pois ao mudar-me para São Paulo, passei a frequentar a casa da Rua Paim, esquina da Frei Caneca, onde morava sua família. O Tico, hoje dentista aposentado, mantém um forte vínculo afetivo com nossa Itápolis e ainda não esquece o delicioso sagu que íamos saborear na Padaria do Sr. Samuel Garnier.