Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Caminhos a percorrer"

Quando a gente abraça uma empreitada como escolhi enfrentar não é aceitável abandoná-la, mesmo que sobrevenham cansaço, decepções, problemas de saúde ou outras adversidades. A opção de escrever crônicas que descrevem, relatam e ilustram a vida de nossa terra durante um período de fatos e de vivências acaba criando um vínculo muito forte com o leitor e isto resulta em compromisso.

Os anos se circunscrevem entre 1930 e 1952 e suas adjacências, tanto um pouco antes, como um pouco depois. Nas minhas 172 crônicas já publicadas procurei descrever, da melhor maneira que minha memória ajudava, vários aspectos da vida dos itapolitanos durante este período. Falei de pessoas, de famílias, de figuras humanas que movimentavam as ruas, praças, igrejas, escolas, cinemas, casas comerciais, clubes, pontos de encontro e todos os recantos de nossa cidade de então.

Falta muito ainda a abordar. Quanta gente, quantos acontecimentos, quantos lugares, quantos momentos especiais que fizeram furor e que se apagaram na memória! Quantas famílias ainda não foram descritas, narradas, relembradas. Só para ilustrar o que estou dizendo, vou citar algumas: a família do Sr. Vitório Renesto, tão numerosa e atuante, a família Coletti, os Janzanti, os Dal Rovere, a família Nori, a família Biazotti, a família Rodeguer, os Granucci, daquela venda simpática perto do antigo bambual, na saída para Borborema, a família Veludo, a família do Valdemar Tombi, os Ceraico, os Franco, os Galvão de França, os Santoro, a família Porto e tantas outras casas cheias de vida. Pessoas que se destacavam de um modo ou de outro, como o Ismael Palhares, o João de Luca, a dona Nhanhã, o Torricelli, o Hélio Riccói, a Victória França, o Bello, único gay da cidade, os irmãos Cogo, os Bergamaschi, do meu colega João, os Gonçalves, das jardineiras de Taquaritinga, os Dall’acqua do ponto de jardineiras, o alfaiate mais antigo, Sr. Marinacci, todos destaques que merecem ser lembrados e ter suas imagens e sua passagem pela vida da cidade resgatadas pelas gerações atuais.

Eu não citei nem um quarto das famílias e das pessoas que merecem um cantinho apartado nesta história livre de preceitos e de preconceitos. A minha mais tenra Itápolis era rica em personagens interessantes, em figuras agraciadas com inteligência e espirituosidade, como o simpático Dr. Marinho Rosa, o popular Caninéo, a amável Dona Candinha Borges. Se eu for citar todos que me vêm à mente, haja espaço para tantas lembranças. O maior problema para o cronista é o perigo de omitir o nome e a importância de certos membros dessas famílias, pois a maioria das famílias daquele tempo era composta de muitos membros, diferente das famílias de hoje que estão se reduzindo aos poucos.

Como abordar, por exemplo, a família Cavicchioli? Quem os conheceu no passado sabe que eram vários irmãos, que tiveram muitos filhos e esses lhes deram muitos netos. A sede da família era a Capoeirinha, uma reunião de propriedades rurais dos irmãos Cavicchioli. Na cidade já viviam alguns de seus descendentes, como o Tito, o Orlando, o Valdemar, o finado Osvaldo, que nos deixou tão jovem, lembro-me bem da Leonor, que gostava muito de ler e tinha paixão por poesia.

Esse conglomerado de irmãos, tios, primos merece uma crônica e vou escrevê-la. Vou me esforçar o máximo para não esquecer ninguém, para transmitir ao meu leitor toda a aura carismática das figuras públicas e dos cidadãos atuantes da vida movimentada da minha terra daqueles anos que já vão longe.