Orestes Nigro
 

Histórias que não foram escritas

 

Diário de Itápolis - Ontem e Hoje

Volto a lembrar meus queridos leitores que o meu propósito com estes modestos escritos é resgatar a memória de pessoas, famílias inteiras, acontecimentos de toda ordem que marcaram a vida desta cidade tão querida de nós todos, durante as duas décadas em que aqui vivi, com alguma abrangência a uma faixa de tempo anterior , que me foi passada pelos meus familiares e por pessoas que me falavam do passado então recente e, embora depois de 1952 estando eu distante, por algum tempo a vida da cidade me era passada por cartas de minha mãe e por relatos de amigos. Não é minha intenção atuar como historiador, não tenho pretensões acadêmicas, portanto não me cobrem exatidão, isto é conta que não poderei pagar sempre.

Procuro ser o mais preciso possível, focalizar os fatos com clareza, deixar no esquecimento o lado negativo da vida da cidade e das pessoas que aqui viveram e que tive a felicidade de testemunhar. Tudo na vida tem aspectos positivos e negativos, todos nós temos qualidades e defeitos, todas as famílias têm seus membros bons se seus membros problemáticos, raramente se escapa disto. Eu sou daqueles que consideram que o lado mau das coisas e das pessoas não contribui para a construção do mundo presente e futuro, por isto o desprezo.

Todavia, aqueles que sabem ler nas entrelinhas hão de fazer suas deduções e verão que não serei injusto com as pessoas de bem. Suas ações serão exaltadas ao ponto de merecerem ser vistas com justiça, sem que eu tenha que aludir às maldades que possam tê-las atingido.

Acontece que estou tratando de uma época totalmente diversa da atual. Naquele tempo, só isto que vou dizer, já diz quase tudo: não havia a desgraça da droga! Imagine, você aí, se não tivéssemos a droga minando  a cabeça das pessoas! Como seria o nosso mundo atual? Sem cocaína, sem “crack”, sem heroína, sem maconha, sem “extasis”, sem esta parafernália de substâncias tóxicas que se espalham pelo nosso continente, pelo mundo todo, como seria a nossa vida, como seriam as pessoas? O mal está banalizado, o crime, por mais cruel, já não nos indigna!

Uma crônica que trate de nossos dias, dos costumes atuais, não passaria sem que se tocasse nas maldades, nas malvadezas, no matar por matar, no intenso egoísmo que marca a atuação dos seres humanos!

Naquele tempo não havia as drogas! Não havia o consumismo destemperado que marca os dias de hoje, não havia o espírito de competição que há hoje e que joga as pessoas umas contra as outras. Crime em Itápolis era raridade, assunto para um ano de comentários! Roubo em Itápolis? Coisa quase inexistente; muito esparsamente acontecia um roubo de roupas no varal, um roubo de galinha! Assalto à mão armada? Ah, isto é coisa que a maioria esmagadora dos homens e mulheres daqueles tempos morreu sem saber de que se tratava.

Você deixava o carro na rua, vidros abaixados, chave na ignição, ia ao cinema, a uma visita, demorasse o que fosse, quando retornava, seu carro lá estava, sem que nenhum objeto fosse subtraído dele.

Outros tempos, minha gente! Portanto, falar mal de quem? Contar pra vocês fatos negativos de que jeito? Eram tão raros e tão insignificantes que se apagaram da mente da gente.

Por isto meus escritos são recheados de coisas boas, agradáveis, gostoso de se lembrar. Famílias integradas, unidas, marcadas pelo respeito aos mais velhos, estudantes que reverenciavam seus mestres, operários que eram gentis com seus patrões, e vice-versa ´pra tudo isto!  Esta é a Itápolis que eu retrato aqui. A Itápolis que muitas vezes me comove às lágrimas, lágrimas de saudade. Porque a Itápolis que eu vislumbro na minha lembrança era feita de pessoas. Não tinha ostentação de casas hollywoodianas, a cidade, do ponto de vista material, até que era pobre, como as outras cidades! Mas o povo que nelas vivia era monumental, agora eu vejo!  Saudosismo? Pode ser. E quem não sentirá saudade de um mundo destes?