Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Oeste F. C.

Oeste F. C., na noite de 10/04/2011, quando venceu a Ponte Preta por 2 x 1

Itápolis continua sendo assunto aqui pelas bandas da capital, da Baixada Santista, onde tenho passado o maior tempo de minha vida de idoso. E o tema que coloca a nossa terra nos bate-papos é o nosso Oeste F,C.  A camisa rubro-negra  anda causando discussões acaloradas, todo mundo quer saber onde é esta Itápolis que tem um esquadrão  que aparece em 5º lugar na tabela de classificação do Campeonato Paulista de futebol, atrás “apenas” de Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos. E não é uma posição momentânea não, lá se vão algumas rodadas em que o Oeste surge naquela zona de classificação para a fase decisiva. Só isto já é motivo de orgulho para todos nós.

Não é a mídia que põe nosso Oeste e a nossa cidade em destaque, não. A imprensa esportiva  no nosso país é, de modo geral, bairrista, limitada, provinciana e não consegue enxergar muitos palmos além do centro onde atuam. Por isto o Guaratinguetá fez bonito em certame passado, o Mirassol vem se destacando como o nosso Oeste, mas o assunto no

Oeste F. C.  - 09/10/1966 - Campeão da 3ª Divisão

Da direita para a esquerda: Oswaldo Micheleti(Prata), Kenedy Malosso, Catarina, Nelson Parillo(Pardal), Wilsinho Granucci, Zé Preto, Baladi, Luiz Destro, Wilson Lucinio, Alicate e Baiano

Globo Esporte, na Band, no Gazeta Esportiva, no Sportv, no ESPN, nas páginas dos jornais, não sai do quadrilátero dos “quatro grandes”; quando muito, algum repórter, filho de padeiro, dá uma notinha sobre a Portuguesa de Desportos. Passou de Campinas, nosso Interior é assunto desconhecido. Mas, nas rodinhas da praça, nos bares, quando o assunto é futebol, o Oeste está sendo um dos “pratos” mais consumidos.

Mas eu sou aquele dos anos 30, dos idos 40, dos findos 50, o que que eu tenho que estar metendo o bedelho num assunto tão atual?

 O Oeste não é assunto atual, não, é assunto de sempre, de muito tempo, desde os idos 1921. Você dirá: “mas agora ele está se destacando como nunca!”, é verdade. Mas esta agremiação sempre se destacou, seu sucesso vem de tempos antes dos meu, e vem do meu também. O Oeste sempre fez boa figura na nossa região, o Oeste tem “pedigree”, tem uma sólida base histórica.

1953 - Oeste F. C. Campeão Regional

Da esquerda para a direita: Em pé: 2 representantes da F.P.F., Francisco Sendon Garcia, Representante da F.P.F., Conrado Zuanon Sobrinho(Presidente), Marconi, Pierin Granucci, Iraci Marconi, Dalmo, Iraci Coletti, Carlos Antonio Dultra, Zé do Alfredo, João Puzzi, Baía(Técnico), Representante da F.P.F., Prof. Aureliano De Franceschi e Victor Lapenta
Agachados: Ismael Nery Palhares, Marinho Gentil, Ubaldo José Massari, Oswaldo Micheletti(Prata), Joaquim Jacintho, Tequinho Sendon, Walter Ignácio, Toninho Monteleone e Zezo Dultra

Nos anos 40, tempo em que aprendi a gostar de futebol, foi com o nosso rubro-negro que aprendi o que é um bom “golkeeper” (se diz golquíper” e significa goleiro), um bom “back (se diz béqui” e hoje zagueiro), um bom “center-alf” (fala-se assim mesmo e significa zagueiro central, volante de apoio) e daí por diante. Os grandes craques daqueles anos, que eu me

 O golquíper Baratinha, apelido do Armando Semeghini

lembro, eram o Pedro Fázio, beque central, o Hélio La Laina, center-alf, o Careta, atacante, o Jovino (Paes), atacante também, o Pierin (Granucci), excelente beque direito, o golquíper Baratinha, apelido do Armando Semeghini, o Dorival Santana, grande alf da linha média, o Torricelli, que era um dos esteios do time, o Irani (Juliano), ótimo ponta direita e muitos outros que não me ocorrem agora, escalação de times de futebol, nunca foi meu forte.

 Com estes e com outros grandes craques, o Oeste sempre deu o recado. Ia jogar em Ibitinga, o eterno rival, e surrava o Rio Branco, vencia dentro e fora da cidade, e só tinha um time que dava trabalho pro nosso esquadrão, o Novorizontino, mas só dava trabalho. Houve um ano em que o campeonato regional prometia ser quente, o comando dos rubro-negros resolveu investir pesado e contratou um

atacante veterano, desses que já haviam passado por vários times grandes, o Sacadura. Os torcedores o receberam com festa, carinho, hospitalidade.

1939

Da esquerda para a direita: Nivaldo Sant'anna(mascote), Antonio Torricelli, Neco Faustino, José Sant'anna, Miguel Sant'anna, Ismael Nery Palhares, Angelo Marconi(Picareta), Silvio Vessoni, Herculano Sant'anna, Emílio Ferrarezi, Pedro Benedito Fazzio, João Faustino (Lota) e Adelbe Negrão

E nos treinos o homem mostrava qualidade de craque. Quando chegou o jogo com o Rio Branco, lá em Ibitinga, a gente esperava um massacre, com brilhante atuação do Sacadura! Que tristeza! O homem dormia em campo, foi um jogador comum, e só atrapalhou, porque, desde os treinos, o time jogava em função dele. Foi uma das únicas derrotas para aquele “freguês” de anos, 3 x 1, me lembro. Outra história curiosa, daqueles tempos, foi a contratação do badalado goleiro Aldo, dono por muitos anos, da meta do Comercial F.C., time da 1ª. Divisão da Capital. Achávamos que era uma sorte grande o Comercial ter liberado seu goleiro  para o Oeste. À boca pequena se dizia “aí tem dinheiro por fora!”.  Mas o pessoal foi descobrindo que era só chutar para o canto direito que a bola entrava. Foram investigar o fenômeno, o homem estava cego do olho esquerdo. Não precisava “dinheiro por fora”, claro.

Mas, estas coisas não acontecem só com times de cidade interiorana não. No Palmeiras, tão grandioso, aconteceu a vinda surpreendente  do goleiro da Seleção da Argentina, Rugillo. Pra fazer gol nele, fácil, fácil, era só chutar do lado  esquerdo, ele também era cego de um olho. O lendário Zezé Celli comentou, na sua barbearia: “Tem que por o Rugillo e o Aldo, lado a lado no gol, cada um garante um lado, ué!” 

São “causos” que a gente ouvia, se eram verdadeiros, só perguntando para o nosso querido Torricelli.

Clique aqui e veja mais fotos antigas do Oeste F. C.