Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Nomes e Significados"

Vamos relembrar os nomes de pessoas que eram habitualmente usados na minha mais tenra Itápolis. Como a cidade era habitada por grande número de imigrantes, cuja chegada ao Brasil ainda era de poucas décadas, tínhamos muitos avós que eram nascidos lá fora e suas famílias estavam no estágio de terceira geração no país. Isto fazia com que os nomes das pessoas também imigrasse e era comum encontrarem-se os Abramo,  Genaro,  Nagib, Giuseppe, Fuad, Manolo, as Stella, Óldera, Sálua, Faridi, Carmen, Consuelo, Concetta.

A maioria, porém, já bem instaladas as famílias estrangeiras, usava nomes já brasileiros ou abrasileirados. Nomes que eram comuns naquela época e que atualmente não se ouvem mais quase: Angelina, Arminda, Antero, Abelardo, Benecélcio, Expedito, Lino, Hortência, Dália, Elvira, Josefa, Margarida, Adalgisa, Adelaide, Iolanda e tantos outros. Gostavam de por nome de flores e de santas nas meninas, e estes variavam conforme a moda. É verdade, os nomes com que registram, batizam os bebês obedecem quase sempre a tendência em moda, é só observar.

No meu tempo de criança e de jovem havia pessoas que tinham nomes já em desuso, já considerados antiquados, mas que persistiam. O seu uso se devia à tradição familiar, ao desejo de se homenagear os mais velhos, ao gosto de nomes clássicos. Tínhamos por isto nomes como Felisbina, Emerenciana, Ponciana,  Guilhermina, nomes que também eram usados no masculino. Tínhamos nomes bem antigos trazidos de fora, como Ermengarda, da Alemanha, Olderise, da Itália, Ermenegildo, de Portugal.

Os nomes de meninas mais usados nas décadas de 30, 40 e 50: Cândida, Lucila, Helena, Odete, Ivone, Lucélia, Isabel, Cristina, Cecília, Rosina, Doralice, Edna, Emília, Enédina, Nilda, Nilza, Neide,  nomes compostos como Maria de Lourdes, Ana Maria, Regina Célia, Vera Lúcia, Ana Elisa, Maria Teresa, Maria Aparecida, Maria Cândida. Havia uma grande diversidade nos nomes das meninas e dos meninos, o modismo tinha menos influência que hoje em dia, que quando aparece um Diego, pode contar com mais dez, uma Camila então, nem se fala.

Os meninos se dividiam em José, João, Antônio, Aparecido, Hugo, Francisco (Chico), Luís, Geraldo, Mário, Ricardo, Raul, Vitório, Salvador, Rui, Rubens, Álvaro, Clemente, Plínio, Nivaldo, Hermes, Sílvio  e vários outros nomes. Hoje em dia você ainda não estranha estes nomes todos citados nas duas listas anteriores, porque ainda são os nomes de seus tios, tias, primos e primas mais velhos. Dentro de algum tempo eles irão desparecendo no uso e quando lembrados soarão como coisas de museu.

Na nossa antiga Itápolis tínhamos nomes que hoje já soam como antiquados, pois estão em desuso. Só na família Amaral, do Coronel Theodoro,  tirando seu filho farmacêutico, casado com a Clarice Basso, o Alberto, tínhamos o Dr. Orozimbo, casado com a Eufrázia Rocha. Naquela casa bonita e bem conservada, que fica defronte à Sorveteria do Zé, tínhamos o Sr. Xenofontes. Eu conheci dois Ermenegildos, uma dona Honestina, a esposa do médico Dr. Arthur Pinto se chamava Dona Felicidade, a filha mais velha dos Cauduro chamava-se Odysséia, a mais nova Onélia, tínhamos colegas com nome de Guaraciaba, de Josmaridei, muitas com nome de Nair, de Zulmira, de Odila.  Os critérios para escolha do nome variavam muito. Alguns pais buscavam nomes pelo significado da palavra. Odysséia significa “grande feito”, e foi título de uma grande obra de Homero, poeta épico de Roma. Um nome já usado na época, que persiste em nossos dias, é o da Drª Lília Cogo, seu prenome significa pureza, pois vem do latim liliam, lírio. Quantas Letícias tínhamos naquele tempo, traziam no nome a alegria (do latim laetitia), donde vem o nome Leda (alegre), também muito usado nos velhos tempos.

Poucos sabem o significado de seus próprios nomes, e por isto alguns acabam se assustando quando descobrem. As de nome Cecília ficam abismadas quando se lhes revela que seu nome é um diminutivo de cécum, do latim, = cego, cega, donde se conclui, Ceguinha . Quem manca, claudica, e o Imperador romano se chamava Claudius, porque era manco; Renato é o que renasceu, Ricardo é o que tem rico coração.  Inês vem do latim ignis, relativo a fogo, este nome que já foi escrito Ignez, significa filha do fogo; Vera, também do latim verum, significa verdadeira. E assim por diante. Uma das partes mais atraentes para quem estuda línguas, é o estudo da origem e evolução das palavras. E a origem dos nomes próprios é fascinante. Se você consultar o ”Dicionário dos Patronímios”. De Antenor Nascentes, você vai se deliciar. Vai descobrir, por exemplo, que nossos Jaime, Jacó, o italiano Giacomo, o  francês Jacques, os anglo-americanos Jack, James, Jim, os espanhóis Iago e Tiago vêm todos do mesmo nome-raiz: Jacob, do hebreu. E veja o significado de Jacob ou Jacó: “aquele que lutou com Deus.“