Orestes Nigro
 

Histórias que não foram escritas

 

Diário de Itápolis - Músicas e Músicos!

E falando ainda nas serestas e nos seresteiros daqueles tempos que foram os nossos “anos dourados”, nós que hoje só podemos falar em saudades, é preciso que todos saibam que nossa terra tinha muita gente ligada à música. Tínhamos gente que cantava, gente que tocava instrumentos, gente que compunha. O maestro Rafael Mercaldi, além de comandar nossa Corporação Musical, conhecida como nossa Banda, ou mais popularmente nossa “Furiosa”, era hábil em vários instrumentos de sopro e compôs lindas melodias, inclusive uma valsa que homenageia nossa cidade. Entre seus comandados havia ótimos músicos, como o Chico Conti, clarinetista, o Januzzi, trompetista e trombonista, o Primo Vessoni e o Saulo Garcia, também mestres no trompete, o bombardinista  Joaquim Paes de Oliveira, também trombonista, enfim uma plêiade de músicos eméritos, só citando alguns. O maestro Mercaldi também ensinava música para os jovens de nossa cidade e um dos discípulos dele é o nosso maestro daquela fanfarra maravilhosa que nos encantou por ocasião dos festejos dos 80 anos do “Valentim Gentil, o Sebastião Vasque.

Alguns grupos se formavam pra se reunir semanalmente e curtir as valsas, os sambas canções, os maxixes, as polcas e as mazurcas, com seus violões, cavaquinhos, bandolins, flautas, pandeiros. Um grupo muito bom, que tive o prazer de ver tocar, era o que se reunia no salão do Bazar 11, do Sr. Mário Pizza, situado na esquina da então José Bonifácio (atual José Trevizan) com a Francisco Porto. As reuniões se davam à noite, acho que era na 6ª feira. A loja, claro, estava fechada nesta hora. Ali se juntavam o Sr. Mario Pizza, na flauta, o Professor René Mallet, no violino, o alfaiate Arthur Caetano da Rocha, no violão, e que violão, e que violino, que flauta!!! Eram músicos de primeira linha, que tiravam acordes maravilhosos, melodias sublimes.

Tínhamos alguns pianistas, como a Dona Joanita Vanicore Senatore, que era professora de Canto Orfeônico no “Valentim Gentil”, a Srª Lili Bucalém Ferrari, que se esmerava na execução da “Polonaise” de Chopin, o Professor João Di Munno, o Professor José de Toledo Mendonça e o então garoto Carlos Antônio Gigliotti, que nos encantava com seu talento no teclado.

Itápolis tem tradição na música, teve muito brilho nos tempos do Theatro Lírico, “Lyra Italiana”, com cantores clássicos, anteriores à nossa época; a nossa Matriz sempre teve lindos conjuntos corais, assim como a Igreja Presbiteriana. Tivemos o Gilberto  Apolaro, barbeiro itinerante, que cantava ao estilo Vicente Celestino e que nos idos 1948 representou nossa terra no programa de calouros da famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, “A hora do Pato”, comandada pelo festejado Jorge Cury, irmão do cantor romântico Ivon Cury, do locutor do famoso Repórter Esso, Alberto Cury e do apresentador Edson Cury, o Bolinha. Que família, hem! E o Gilberto foi bem no teste, não foi gongado não!

Só nos falta lembrar que Itápolis é berço de um grande letrista e violeiro, nosso querido José Fortuna que, junto com seu irmão Euclides, formou a famosa dupla “Os Maracanãs”, que tanto sucesso fez por este Brasil a fora. Ao José Fortuna devemos a maravilhosa letra da versão brasileira de “Índia”, assim como a letra da badalada guarânia “Meu primeiro amor”, que não tem quem não saiba.

Isto tudo é riqueza cultural, acervo artístico, talento e criatividade, virtudes que nos enchem de orgulho e afirmação como itapolitanos. É claro que deixei de citar alguns talentos que minha memória não reteve, mas eles estão na memória de tanta gente, gente que pode ajudar-me a lhes fazer justiça.