Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

A Loucura e o Sonho

No Brasil atual a gente pode detectar a existência de inúmeros tipos de heróis. A primeira ideia de herói que nos vem à mente é a do Bombeiro, o homem que desafia o fogo para salvar pessoas que, na sua maioria, lhe são estranhas, para salvar bens materiais que não são os dele. Outro herói, cada vez mais herói, é o Professor, que além de enfrentar o descaso secular das autoridades de todos os níveis, agora tem que enfrentar a violência, o desrespeito, a ignorância cada vez mais patente de grande parte dos alunos, além  do desprestígio social, jogados que são nos guetos dos mal assalariados. Não falo por mim, que fui professor, mas em tempos de “mar de rosas” se comparados aos de hoje. É claro que nossa nação tem uma multidão imensa de heróis anônimos que enfrentam também os salários degradantes, as condições de vida aviltantes, a falta de assistência de todo tipo, e assim mesmo, por heroísmo, seguem na luta sem se afugentarem pelo caminho da bebida e da droga. 

Mas hoje vou cumprir um insistente propósito que perambula em minha mente: falar de uma profissão que tantos menosprezam, que muitos ignoram, que poucos lhe atribuem valor e encanto até. Vamos falar do Jornalista, do homem e da mulher da Imprensa, que no rádio, na TV, na Internet, nas revistas e nos jornais exercem a missão de informar, comentar, criticar, investigar,  divertir,  mobilizar,  denunciar, ensinar, advertir, enfim, de tanta coisa! Volte a leitura e veja quantas atividades, quantas contribuições ao cidadão se fazem através dos jornalistas (editores, repórteres, blogueiros, comentaristas, locutores, âncoras, críticos de artes, de esportes, de tudo que se faz neste país e fora dele. E como os Bombeiros, como os Professores, como os Heróis Anônimos, nem sempre têm o retorno que esperam ter quando abraçam a profissão.

Dentre as espécies várias de jornalismo, destaco aqui, a do jornalismo feito nas cidades do Interior. Quem é bem informado, que lê como quem garimpa informações, sabe que mesmo a Grande Imprensa, que tem sua sede nas capitais, nos grandes centros, enfrentam imensos problemas de ordem financeira, de ordem política, de ordem estrutural. Agora imagine você um jornal composto, distribuído e mantido numa cidade como a nossa Itápolis. Não é fácil nem um pouco fazê-lo, e cumprir a missão de fazê-lo circular todas as semanas! É uma missão gigantesca, porque é muito trabalhosa, porque é altamente dispendiosa e desgastante. O Editor-Chefe da “Folha de São Paulo”, do “Estadão”, de “O Globo”, vão para suas redações de forma anônima, moram de forma anônima, não se expõem, por isto poucos sabem das dívidas  gigantescas que suas empresas sempre enfrentam. Se são atacados, é por escrito, vão ler no dia seguinte. E o nosso jornalista interiorano? Quem não sabia onde morava o Sr. Roberto Del Guércio, onde era a tipografia de “O Progresso”? O mesmo vale para o Sr. José Gentile de Luís, proprietário de “A Ordem”. Quem não sabe onde mora o redator da “Folha de Itápolis”, quem não se encontra com ele pelas bandas da cidade?

Quem não conhece a Srª Izilda Reis, dona e responsável pela edição deste jornal que você está lendo agora? Deste jornal que surge nas bancas e em suas casas todas as semanas, faça chuva ou faça sol! Você tem noção de quanto custa fazê-lo circular toda semana? Custo em despesas, custo em noites em claro, custo em busca de anunciantes, custo em esforço para não esmorecer, em desgaste emocional! Para o jornalista de cidades como a nossa, o papel custa bem mais caro, a impressão, a distribuição, tudo tem que ser mais caro! Num jornal desta categoria o número de funcionários, de repórteres, de colaboradores é irrisório, perto dos grandes jornais!

E esta moça, que não pode se esconder no anonimato, que não vive encastelada numa fortaleza, que tem que por a cara nas ruas, nas praças, em todos os lugares, enfrenta tudo isto por que? Por teimosia? Por distração? Não: só duas respostas são possíveis aqui: ou ela é louca, ou é uma sonhadora. Não há outra explicação: viver lutando contra a maré, dando murros em pontas de facas, ver-se frequentemente sem dinheiro para honrar seus compromissos, sujeitando-se por isto a comentários que denigrem, a olhares que magoam? Por que um ser humano faria isto?  Tudo porque reúne em si os dois principais ingredientes do heroísmo: a loucura e o sonho!

Minha homenagem,  já há muito tempo devida, a esta grande mulher, esta “heroína cabocla” que faz parte de uma das categorias profissionais mais dignas, mais valiosas, mais produtivas da humanidade: a Imprensa! Comparo os homens e mulheres da Imprensa aos Bombeiros, aos Professores, aos Médicos, aos Missionários, aos Cientistas que descobrem os remédios que nos curam, todos profissionais que merecem que se lhes escrevam os nomes com Maiúsculas. Homenageando Izilda Reis, estou homenageando os homens que nos mostram as mazelas de certos políticos, a sujeira que jogam para debaixo dos tapetes palacianos!

Parabens, Izilda, pelo “Diário da Cidade”, pela notável revista “Notáveis”, de qualidade irrepreensível. Parabens, Itapolitanos, pela imprensa que os engrandece!