Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Futebol! De ontem e de hoje!

No meu mais tenro Brasil, quando em vez de 200 milhões eram só 30 milhões em ação, a nossa bandeira tinha maior presença nos estádios onde jogava a nossa Seleção.  Era com a mão no peito que o craque cantava o Hino - hoje ele não põe a mão no peito pra não tapar os adesivos do patrocinador! Nossos heróis da bola adquiriam feições de soldados da pátria! Hoje são uma vitrine de brincos, estilos penteados, chuteiras coloridas. A cabeça do nosso antigo jogador estava no nosso torcedor, no seu time do coração, na sua cidade natal, pois ele se sentia honrado de estar na Seleção, e procurava retribuir honrando aquela camisa de um azul limpo como o céu de brigadeiro.

Seleção Brasileira de 1950, quase imbatível, perdeu para o Uruguai, silenciando o Maracanã

Aí chegou a televisão, a imagem superou a palavra, e nasceu assim, em quase todo mundo, a ânsia de aparecer, de ver sua cara na telinha! Eu desconfio até que tem gente matando criança, cometendo crimes bárbaros, só pra aparecerem nas reportagens policiais!

 

Coincidentemente com o advento da televisão, amarelaram a camisa dos nossos eleitos e a Seleção começou aí a virar seleção, a amarelar e a desfilar nos gramados como top models e como homens-sanduíches(aqueles cidadãos que ficam parados nos calçadões vestindo placas de anúncios).

 

 A camisa amarelou e junto com ela a alma do antigo herói. Se a camisa ficou amarela, os sonhos ficaram verdes, milhares de verdinhas!

Lembro-me de Itápolis de 1950, exibindo bandeiras do Brasil em suas janelas, quando aquela Seleção quase imbatível exibia nos campos homens-craques como Zizinho, Ademir Menezes, o Queixada, Tesourinha, Bauer e tantos outros ídolos. Você não os via senão jogando, nas reportagens filmadas para o cinema. Eram protagonistas e coadjuvantes de um espetáculo que acontecia no gramado. ninguém sabia da vida privada destas celebridades, o que lhes possibilitava maior concentração naquilo que tinham que fazer. Com eu sempre digo, era um outro mundo aquele.

 

Seleção Brasileira de 1958 e o 1º Título Mundial conquistado na Suécia

Em pé, da esquerda para a direita: De Sordi,  Zito, Belini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar

Agachados, da esquerda para a direita: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagalo e o massagista Mário Américo

O futebol era uma paixão nacional, fonte de orgulho, ponto de afirmação de nacionalidade! Isto está acabando, definhando dia por dia. O mercantilismo tomou conta do grande circo e, como é praxe, vem acompanhado de ganância, de falta de escrúpulo, do consumismo exacerbado e da disposição de partir pro vale-tudo!

Hoje vários clubes de futebol já tem dono, já podem ser negociados. Como exigir que o jogador tenha amor à camisa, à cidade onde ele joga, se ele também virou mercadoria e seu clube é negociado de "porteira fechada"?

 

É natural, pois, que a tendência demonstrada em pesquisas realizadas logo após o fiasco da Copa América, 43%, em média, declarou que não acompanhou os jogos. Este índice tende a aumentar, você concorda? Se não houver uma mudança radical

 

de comportamento, em poucos anos desaparecerão os adesivos nos uniformes, os ricos clips de propaganda na TV, pois os consumidores do futebol e de tudo que o cerca terão sumido, se escafederam. Esta mudança de atitude tem que partir de nós, povão que somos, pois dos políticos, salvo raríssimas exceções, não se pode espera coisa que preste e dos jogadores, a maioria com o cérebro nos pés, só se pode esperar exibicionismo, submissão, sonhos de riqueza e fantasia, prova disto são sua entrevistas, donde, na grande maioria, não se consegue tirar nada de útil.

 

Vamos torcer para o Oeste, para o timer da cidade, cujos jogadores vivem como nós, respiram o mesmo ar e falam a mesma língua!

Oeste F. C. - Campeão do Interior da Série A do Campeonato Paulista de Futebol de 2011