Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Figuras Populares

Recebi do Valentim Baraldi um DVD com a gravação de um delicioso bate-papo entre algumas das figuras mais ligadas à história remota e recente de nossa cidade. Para ser mais preciso, participam da conversa o Rubinho Guzzo, o Osvaldo Malachias, o Brudenhausen, conhecido como Capacete e a representante feminina Maria Lília Cogo.  O tema da conversa: episódios e figuras humanas que marcaram a nossa história local, dando aos fatos um colorido especial. Foi uma delicia ver e ouvir o DVD. Os participantes foram ótimos, falaram com clareza e riqueza de detalhes dos fatos e pessoas mais diversas, revelando lances interessantíssimos, carregados de humor, de pitoresco e de humano.

Pela boca destas quatro figuras da nossa Itápolis pude me lembrar de inúmeros personagens que já me escapavam à memória. Foi para mim como se houvesse sonhado um sonho longa-metragem, cheio de cenas e detalhes que me recolocaram no cenário de minha saudosa cidade. Figuras como o Miguelão, como o Zé Osso, a Maria Bunduda, que um deles comentou: “hoje seria chamada de Maria Popozuda”, e seria mesmo!  Foi um momento de encantamento aqueles 50 minutos ouvindo os “causos”, as peripécias, os aspectos humorísticos e os lances comoventes que decorriam daqueles relatos e comentários tão bem feitos, tão ricos em expressividade e poder descritivo.

Não vou repetir aqui os relatos porque seria tirar a oportunidade de vocês, itapolitanos que gostam de histórias, poder saborear aquele DVD que deve ser editado e, de alguma forma, distribuído entre vocês.

Ali você vai saber, relembrar, descobrir muitas riquezas humanas que esta cidade guarda.

Para a próxima gravação que o Valentim for realizar, peço desde já que me reservem um lugar naquela mesa, nem tanto para falar e contar histórias, mas sobretudo para ouvir, ali, ao vivo. Vamos poder esmiuçar as passagens mais interessantes e acrescentar  algumas figuras como a Dona Conchetta, a Dona Vitória França, o Paiva-Paivante, o Venuto, a famosa Carlotta, que deu o nome a um de nossos riachos, a temida Velha Mazurca, o Sr. Luís Unger, contador de histórias, o Dito Balthazar, que aplicava injeção na veia dos sitiantes de sua redondeza, o Rico Piola que se vestia de verde quando o Palmeiras ganhava. Tanta gente cheia de riqueza humana, de experiências notáveis, como a Dona Fadua, a libanesa que esbanjava cultura, bom gosto e humanismo, o lendário Julinho Sudário, nosso intelectual maior, E falando nisto, há muito o que contar e comentar sobre nossos mestres mais destacados. As tiradas do Professor Tamerick, o brilhantismo do Professor Aureliano, a eloqüência do Professor Maradei, a graça e beleza da Professora Dalva, tão competente e exigente, a precisão científica do Professor Meri Minhoto, o eruditismo refinado do Professor Abelardo, o rigor apavorante do Professor Marão, todos estes portentos que davam ao nosso eterno Ginásio, Colégio, Instituto de Educação Valentim Gentil um ar de Panteon, um jeito de Academia.  

Preciso dizer que fiquei muito feliz ao descobrir que nossa terra tem seus cultivadores, seus documentaristas, seus historiadores descompromissados. Junto-me a eles com muita honra e entusiasmo. A minha mais tenra  Itápolis perdeu seus entes queridos, mudou as fachadas de suas casas e construções, mas vem conservando intacta a sua alma e a sua vocação para o culto do sublime.