Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Família Nigro I

Minha mãe, Isabel Maria da Costa Sene, seu nome de solteira, nasceu dia 19 de novembro de 1905, filha do advogado ORESTES DA COSTA SENE JR. e de Dª Maria Isabel de Moraes Sene. Meu avô, que foi prefeito de Itápolis de 15/01/1916 a 14/01/1920, era oriundo da cidade de Silveira, do Vale do Paraíba e minha avó, era nascida na cidade fluminense de Vassouras. Tiveram 8 filhos, 1 homem e 7 mulheres, cuja mais velha era a Bebé, minha mãe, seguida do Orestinho, da Bembém (Loreta), da Lucila, depois da Bibi (Abgail), da Santinha, da Bizuca (Maria Isabel) e da caçula, que já nasceu órtã de pai, a Cristina. 

Meu pai, Vicente Nigro, nascido em Pedro Alexandrino, um distrito de Bocaina, região de Jaú, era filho de imigrantes italianos. Meu nono, Nicola Nigro e minha nona, Beatrice Derienzo Nigro, vieram da “bassa Itália”, região da Calábria.  Sua primeira vinda para o Brasil se deu por volta de 1896, onde se casaram e tiveram um filho, meu pai, em 19 de julho de 1902. Voltaram para a Itália, em 1904, onde nasceu o segundo filho, Arcângelo, fundador da Indústria Nigro de alumínio. Vieram novamente para o Brasil, em 1906 e aqui tiveram mais três filhos homens: o Antônio, o Pascoal e o Roque. A família fixou-se em Itápolis, onde o Nono exerceu o ofício de folheiro, artesão que era, fabricando regadores, torradores de café, canecas de folha de Flandres, e outros utensílios. O Nono também exercia a profissão de jardineiro, perito que era em enxertos de roseiras e plantas frutíferas.

Por volta de 1919, meu pai com 17 e minha mãe com 14 anos, teve início uma ameaça de namoro entre os dois, conforme me contaram minhas tias. Era um flerte, troca de olhares, ele passava na outra calçada da casa dela, um casarão na rua XV de Novembro, hoje Valentim Gentil, nas proximidades da Casa Lutaif. O Nono morava na esquina da mesma rua com a Bernarido de Campos e isto facilitava o namorico. Vicente, moço espigado, tipo italiano meridional, amorenado, deixava bilhetes no parapeito da janela da Bebé, às vezes acompanhado de um botão de rosa.  Namoro naquele tempo era assim mesmo. Só que este não foi pra frente.

            Nesta época havia um clima de má vontade entre as famílias de imigrantes e as famílias brasileiras. Isto é fato histórico. Os imigrantes vieram substituir a mao de obra dos escravos, que por trabalharem de graça eram ainda os preferidos dos grandes fazendeiros, dos barões da terra, daí a implicância destes com os seus substitutos, que não se submetiam às velhas regras, cobravam pelo trabalho e tinham a proteção das leis da imigração. Pois é, os Nigro não aprovaram aquele namoro, o romance do casalzinho feneceu e logo a Bebé ficou sabendo que o italianinho Vicente ia se casar com a Catarina Pacce, de família de imigrantes, o que se deu realmente.

Mas, se o Vicente foi construir seu lar e sua família, a Bebé não, continuou solteira e suspirando a saudade de um amor frustrado. O Vicente e a Catarina tiveram três filhos, o Nicola, a Rosa e o Romeu, três verdadeiros italianinhos que misturavam o dialeto da “bassa-Italia” com o albanês dos Pacce.  O parto do quarto filho do casal ceifou a vida da Catarina, mãe e filho sucumbiram às complicações que eram tão comuns naqueles tempos e o Nicola, a Zizinha, com era chamada a Rosa e o Romeu ficaram ´órfãos de mãe. Vicente viúvo, não demorou que se reaproximasse da vizinha Bebé; Mas aí foi o lado brasileiro que frustrou o namoro. Meu avô Orestes, nomeado membro do Tribunal de Alçada de São Paulo, levou embora sua numerosa família e foram viver na capital do Estado. O Vicente acabou encontrando outra “oriunda”, a Pierina Medici, com quem se casou, inciciando assim nova etapa de sua vida.

Em São Paulo, onde nasceu a Maria Isabel (Bizuca), minha Vó Nenê, grávida da Cristina, sofreu o baque do enfarto fulminante de meu avô, deixando-a viúva com apenas 37 anos e oito filhos pra criar. É claro que não conseguiria sobreviver na grande cidade, seu retorno para Itápolis foi inevitável. E na volta à terra natal, a Bebé foi ter notícia de que o Vicente, seu eterno namorado, estava de novo viúvo. Pierina também morrera. O destino foi mais forte que as restrições de ambas as famílias e o casamento de ambos se deu no dia 10 de outubro de 1931. 

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