Orestes Nigro
 

Histórias que não foram escritas

 

Diário de Itápolis - Famílias

Depois de algumas semanas “fora de centro” e ainda meio zonzo, já estou em condições de retomar a temática que vinha desenvolvendo antes do mau súbito que me vitimou. Vocês leram, nestas três últimas semanas, crônicas com focagem leve, que escrevo e vou reservando para eventuais impedimentos, como ocorreu agora. Espero poder focalizar de novo os matizes raciais que compunham o perfil étnico de nossa cidade, nos tempo em que aqui cresci de vivi. Vamos falar de novo das famílias itapolitanas daqueles tempos em que a cidade ainda tinha sotaques estrangeiros. São tantas as famílias de que me lembro com admiração e saudade.

Para relatar a vocês como viviam essas famílias, cuja maioria se desenvolveu e continua a brindar a cidade com sua presença, sua atuação em vários campos, que a gente precisa estar com a cabeça em ordem, pra não esquecer nenhum detalhe importante, nenhum membro de destaque. E no terreno das raças, é preciso estar atento pra não rotular de alemão aquele que veio da Áustria, de italianos os que vieram da Albânia. Nem todos os estrangeiros da nossa mais tenra Itápolis eram de origem latina. Havia os Kojotovski, os Brudenhausen, os Kinestautas, os Koch, os Gugisberg. É claro que me refiro a moradores da cidade, pois nasci e cresci dentro da cidade, conheci grandes e maravilhosas famílias do campo, como os Gianzanti, o Manginelli, os Delmuth, os Butarello. Mas para falar destes preciso recolher mais lembranças, pois não privava do convívio deles no dia a dia. Mas, vou chegar lá, se Deus continuar irrigando minha memória.

Lembro-me de tanta gente, de tantas casas, de tantos aglomerados familiares que fica difícil escolher qual focalizar, pois estão todos no mesmo plano, seja no da importância para a cidade, seja no do aspecto afetivo, pois todos tinham seu papel e todos eram muito queridos.

Quando fecho os olhos e passo a rememorar esta gente toda, vêm-me à mente os Lapenta, com aquela alfaiataria bem no centro, onde labutava o Roque, o Mario ainda jovem, que mais tarde se tornou professor e acabou  diretor do Instituto de Educação de Taquaritinga; aí me vem a lembrança do Gigio, que pra mim é até hoje o melhor sorveteiro que já conheci. Naquela sorveteria, aquela, no quarteirão de cima da praça da Matriz, onde até outro dia tínhamos o Calçadão, você podia escolher as mais finas formas do “gelatto”, como dizia meu nono. O Gigio Lapenta fazia sorvetes com os sabores mais deliciosos e alguns de frutas exóticas,  como o sorvete de cerejas, o de abricó, o de pistache. E o espumone, o bolo gelado,  então, sensacional! e tinha também a cassata, um sorvete feito em camadas de várias cores, um primor o que o Gigio fazia! Aquela sorveteria abriu a galeria das famosas sorveterias da nossa Itápolis, até hoje elas pontificam, a ponto de já termos sorveterias especializadas nas receitas daí. Numa rua quase vizinha à de minha casa em São Paulo, mais precisamente na rua Bento Freitas, pertinho do Largo do Arouche  me deu orgulho de ver a placa “Sorveteria Itapolitana”.  O Gigio tinha vários irmãos e irmãs, bem conhecidos na cidade. O Vitor Lapenta teve um filho, chamado Victor Hugo, irmão da Terezinha, da Maria Rosa e do José, que foi ordenado padre e rezou sua primeira missa na nossa Matriz.

Nós não vamos poder deixar de lado famílias enormes como a dos Semeghine a família Porto, a família Mallet Cyrino, os Próspero, os Haddad, os Gentil. E tem muito mais! Vão ser muitas páginas de crônicas. Deus me ajude mesmo!

Cada vez que eu visito minha terra e passo por suas ruas e esquinas, meus olhos enchem as calçadas de famílias inteiras, ao cair da noite, sentadas em bate papo. Quando penso que aquela gente com quem convivi todas minha infância e juventude, na sua maioria não existe mais, eu entendo o verdadeiro caminho da humanidade, eu acabo aceitando a falta que eles fazem e a saudade de me corta o coração!