Orestes Nigro
 

Histórias que não foram escritas

 

Diário de Itápolis - Famílias de Itápolis

Falando sempre da minha mais tenra Itápolis, aquela cidade da minha infância e juventude, que ficou encravada na minha retina, no mais profundo dos meus ouvidos e na minha memória remota, venho abordando a vida de algumas famílias, famílias que eram atuantes na nossa cidade de então. Peço que meus leitores encarem estas crônicas como reminiscências que levo comigo, sem nenhuma pretensão de fazer registros históricos. Nada disto: meus escritos não são resultado de pesquisas, não me debrucei sobre compêndios nem sobre os anais de uma biblioteca ou de um museu, tudo sai de minhas lembranças e, em alguns casos, recebo ajuda de leitores e de membros das famílias que vou abordar. Por isto, se você, meu leitor, deparar com equívocos que eu venha a cometer, fique à vontade, escreva para o jornal, para o site  ou para mim, terei imenso prazer em receber a sua colaboração. Estes textos que vêm sendo publicados vão ser compilados num livro, futuramente; será a oportunidade de corrigir, acrescentar, subtrair o que não bateu direito nos meus registros. Acontecem erros de nomes, por exemplo: quando falei dos irmãos Fortuna, chamei o Euclides e Alcides, quando citei os membros da família Brunelli, não mencionei o Matheus, filho do Renatinho, portanto bisneto do Sr. Ângelo Brunelli. Desculpem-me, Renatinho e Matheus! Depois que eu escrevo, que envio pra para ser publicado, muita coisa me vem à lembrança, fatos relevantes às vezes, mas aí não dá mais tempo de inseri-las, ficam para o livro.

Até agora falei sobre os Vessoni, os Armentano, os Monzillo e os Brunelli, por coincidência todos meus vizinhos naquela época, todos ou italianos ou “oriundi”. Achei mais prático começar pelos mais íntimos, isto me dá mais segurança. E Itápolis tinha tanto italiano, mas tanto, que se fosse sortear as famílias, certamente eles predominariam. Dava-´se pra contar nos dedos das mãos as famílias que não provinham da “bella Itália”. Eram famílias muito unidas, muito atuantes, dos Vessoni, por exemplo, é preciso registrar que a Isabel foi a primeira motorista do sexo feminino da cidade. E olha que ela dirigia de forma irreprimível, enfrentava longas viagens, diziam que era pé-de-chumbo e nunca se envolveu em acidentes. Ela foi também a primeira a fumar em público e a usar calças compridas. E jogava bilhar e snooker muitíssimo bem. Uma figura, a Isabel Vessoni; foi minha professora no 3º ano do grupo, me deu muitos coques, porque eu conversava muito.

Dos Armentano me cabe agora lamentar a perda recente de Dona Marieta, que eu mencionei na crônica festejando sua boa saúde, sua lucidez, aos 97 anos bem vividos. A esta hora certamente ela já reencontrou a Dona Filomena, a Dona Margarida, Sr. Luciano, Sr, Ângelo, a Lourdinha, o Nicola, o Tui. Deixo aqui meu abraço à Ida, ao Miguel, à Cristina, à Emilia.

Esta abordagem de famílias ainda vai longe. Tem muita gente gravada na minha cabeça. Famílias numerosas, famílias ricas de histórias, famílias dos áureos tempos, livres dos problemas que afligem as famílias de hoje em dia. Os casais não se separavam quase nunca, os filhos, netos, bisnetos permaneciam sempre presentes, mesmo que já residissem fora. Havia uma identificação muito forte entre seus membros. Talvez seja por isto mesmo que ficaram guardadas na lembrança não só minha, mas de muita gente. Como esquecer as famílias dos Santarelli, do Gentil e dos Gentile, dos Mendonça, a família do Sr. Claudovino Rodrigues com aquela penca de filhos, os Mucari, os Haddad, os Semeghini, a família Marconi, os irmãos Galvão,  a minha familia Nigro, a minha familia Sene... e tantas outras. Devagar chegaremos lá, minha querida gente da terra natal.