Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Nossa Escola!

O prédio da nossa velha Escola, nas lentes do nosso primeiro fotógrafo, Carmine Tarallo, que depois foi Prefeitura e Câmara e hoje é Centro Cultural,

Naquele prédio envelhecido pelos anos, naquela esquina da antiga Casas Pernambucanas, hoje Ao Preço Fixo, e do chalé  de bicho do Sr. João dos Santos, pai do Geraldo e da Luzia, naquele prédio do lado da Sorveteria Lapenta, que depois virou Sorveteria Fontes e já foi Sorveteria Cacini, naquele prédio de vitrôs modernos para a época, nós alunos do “Valentim Gentil” vivemos momentos de intensa alegria, de forte vibração e de muitas lições, lições das aulas e lições de vida.

Naquela época, anos 30, 40, 50, não havia computadores, mas nós tínhamos o nosso “Google”, nossos mestres. Fossem eles maduros ou jovens, homens ou mulheres, todos ofereciam sabedoria, cultura, conhecimento específico e geral, capacidade didática, aptos a oferecer-nos aulas magníficas, que nos prendiam a atenção. Aos alunos de inteligência mediana para cima bastava prestar atenção às aulas, pouca coisa sobrava para estudar em casa. A gente tinha orgulho de pertencer àquela escola! Aliás, em todo o Estado de São Paulo, também no Rio de Janeiro e nas capitais dos outros estados, dava gosto estudar em escola pública! O Colégio Bento de Abreu de Araraquara, o Colégio Adhemar de Barros de Catanduva, o Colégio Estadual de Taquaritinga, para citar alguns da nossa região, eram referência no ensino!  Poucos colégios particulares se comparavam em nível às escolas públicas! No Rio, o Colégio Pedro II, em São Paulo,  o Liceu Coração de Jesus, o Colégio Arquidiocesano e alguns colégios de freiras, que eram também internatos, como o famoso “Dês oiseaux” (que se pronuncia dezuazô  e significa passarinhos). Mas não chegavam ao nível elevado da Escola Normal Caetano de Campos, do Colégio Estadual Roosevelt do Parque Dom Pedro.

Prof. Francisco da Silveira Bueno

E o nosso Colégio Estadual e Escola Normal “Valentim Gentil” onde se situava?  A gente adorava a escola, os mestres, os funcionários, mas não tínhamos idéia do prestígio que ela tinha! Foi só quando ingressei sozinho, único aprovado no setor de Letras do 2º Concurso de Habilitação vestibular) da Faculdade de Filosofia da USP em janeiro de 1952, que pude constatar que o nosso “Valentim Gentil” era conhecido de vários professores daquela faculdade. De um deles, o professor Francisco da Silveira Bueno que, para nós aí de Itápolis, era um livro de Língua Portuguesa, adotado pelo professor Aureliano, dele ouvi o seguinte comentário: “Você é de Itápolis, não é? Tinha mesmo que brilhar no vestibular! Você teve um ginasial e um colegial de alto nível! Seus conterrâneos têm que tirar o chapéu para aquela escola, para aqueles professores!”  Agora, vocês imaginam a emoção que senti naquela hora, naquela sala de aulas! Feliz com o ingresso na USP, saudoso de tudo e de todos que deixei pra trás, e com o peito cheio de orgulho e gratidão aos meus mestres. Foi muito bom ouvir estas palavras, vindas de um dos catedráticos mais exigentes e rigorosos da minha nova escola.

Acho que não é preciso melhor homenagem que esta ao maravilhoso corpo docente do nosso “Valentim Gentil”, que já foi Ginásio, já foi Escola Normal, já foi Colégio, já foi Instituto de Educação e que hoje é Escola.

Se estas palavras ainda são insuficientes, vou me reportar a uma entrevista que vi e ouvi, segunda feira agora, dia 21 de fevereiro de 2011, no programa Roda Viva da TV Cultura. Marília Gabriela entrevistou um itapolitano, um filho desta terra e filho do mais ilustre dos itapolitanos: Doutor Valentim Gentil Filho, psiquiatra de enorme prestígio, só psiquiatra até aquela entrevista que, por sorte, pude gravar. Porque, deste dia em diante, este moço nos orgulha com uma inteligência impressionante, com uma cultura brilhante, com uma simpatia cativante. Eu, que tenho a missão de cuidar, de acompanhar os passos, de conviver com um filho esquizofrênico, com uma filha flagelada pela depressão, recebi deste homem incrível a grande explicação que me faltava e que me fez entender o drama da Marília.

Só podia ser quem era! Só podia ser de Itápolis!