Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - O romantismo das Estradas e Caminhos

Na minha mais tenra Itápolis as estradas e os caminhos eram um convite aos passeios, às caminhadas, às aventuras das crianças e dos jovens. Não tinham o conforto e a segurança das rodovias a que nós, paulistas, estamos acostumados, mas tinham seus encantos. As estradas e os caminhos daqueles anos já longínquos tinham um romantismo que as tornava agradáveis de se percorrerem.

Todas as estradas municipais de ligação com outros municípios, assim como aquelas que levavam às chácaras, sítios e fazendas, eram tema de programas dos governos da cidade, bem cuidadas faziam o nome do prefeito de plantão. Cuidar da “subida da Onça” e da subida da Bananeira, na estrada de Borborema, trechos que castigavam os motoristas da época, era promessa de palanques. E quando se cumpria a promessa, o itapolitano enchia o peito pra dizer: “nossas estradas estão um bilhar!”

Desde menino, com meus amigos de infância e juventude, o Vadinho Monzillo, o Tico, o Lalo, o Teodósius Chamas, o Oacir Ellero, o Zé Sene, seus irmãos Nereu e Tadeu, o Henrique Zabini, o Geraldo Gentile,  o Baianinho (apelido do Geraldo Hauers), o Dega, filho do padeiro Samuel, o João Miséria (apelido do simpático João Alexandrino), o Zoca e tantos outros,  eu e eles trilhávamos essas estradas em busca de aventuras, à procura do prazer de encontrar seus riachos de água cristalina, suas plantações de melancia, de abacaxi, suas matas virgens que a gente adentrava pra apanhar jatobás. Nelas a gente via de tudo, desde flores silvestres até os pássaros exóticos, raros na cidade, porque tinham onde viver tranqüilos.

Este hábito estradeiro das crianças e jovens de então, salvo pouquíssimas exceções, nos levavam a freqüentar as chácaras maravilhosas que havia em Itápolis. A mais popular delas, a mais freqüentada nas tardes de domingo e dos feriados, era a chácara do Balthazar, cujo caminho sinuoso e gostoso de percorrer, saía ali pelos lados onde hoje é o bairro da Aparecida. Os irmãos Balthazar, como eram conhecidos o Antônio, o Dito, o José, a Jorgina tinham um recanto encantador, com um açude que chamávamos de piscina, bem arrematado,  com gramado, canteiros de folhagens, cabines de madeira para vestiário dos banhistas. Com uma moeda de mil reis a gente podia dar um mergulho, passar horas se refrescando naquelas águas limpas e confiáveis. Quem preferisse as delícias do pomar, gastava uma moeda de 2 mil réis e podia se refestelar nos pés de jambo rosa, de pitanga, de jabuticaba (tinha da graúda e da Sabará), ou podia trepar nas mangueiras, nos abacateiros, nos pés de caquis, tudo muito bem cuidado, tudo em abundância; com os dois mil réis você saboreava as frutas e podia ainda levar o que pudesse carregar.