Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Festa do Padroeiro

Na minha mais tenra Itápolis tinha “festa da melancia”, como chamavam jocosamente Finados, mas tinha também a deliciosa Festa de Agosto, que uns diziam ser a Festa do Padroeiro, o Divino Espírito Santo, outros já diziam que era a Festa de Santo Antônio. Mas era muito boa a Festa de Agosto. Além de muitas solenidades litúrgicas, missas cantadas maravilhosas, com um coral de fazer inveja às cidades vizinhas, a Quermesse era espetacular. Não se limitava às ceias e bingos, como a maioria das quermesses de hoje; eram inúmeras barracas, cheias de atrativos, prêmios interessantes, guloseimas, artesanatos, além da barraca dos leilões e da barraca-bar.

Lembro-me da barraca da pesca, onde lhe davam uma vara de pescar, com um anzol bem grande e você pescava os ganchos de arame que estavam enterrados em caixas de areia retangulares; você enganchava aquele anzol, puxava o gancho pra cima e saía um cartão onde estava escrito o seu prêmio: era uma bola de borracha, era um apito, era uma peteca, era uma barra de chocolate, era um vale pipoca, que você usava no pipoqueiro. Eu sei que a garotada adorava a Barraca da Pesca. Havia uma, preferida das donas de casa, onde elas apostavam numa roleta toda cheia de gomos coloridos, e o prêmio era uma obra de arte das bordadeiras da cidade. Eram toalhas de rosto com bordados, com crivo, bicos de crochê; eram lencinhos de cambraia com bordados minúsculos, inúmeros trabalhos da mais fina e alta qualidade. Havia também a barraca do Tiro ao Alvo, cheia de prêmios que você derrubava com tiros de espingardinha que expeliam uma bucha. A Barraca dos Confeites era uma das mais concorridas, apresentando seus diversos tipos de doces, biscoitos, pequenas broas de fubá, suspiros, brevidades, sequilhos, compotas; havia uma torta de abacaxi que a mãe do Oacir Ellero, a Dona Quita, mandava que era o maná dos deuses.

Todas as barracas eram montadas, adornadas e abastecidas pelos diversos grupos de fiéis que eram organizados pelos frades franciscanos que cuidavam de nossa matriz. O trabalho dessas pessoas era gratuito e de grande empenho. Não havia barraquinhas comerciais, carrinhos de particulares. Todos os produtos que serviam de prêmios eram doados, confeccionados e produzidos pela família católica itapolitana e o resultado financeiro final era destinado a obras de caridade e manutenção da igreja. No primeiro domingo depois de terminada a festa, os frades divulgavam nas diversas missas, o balancete final, transparente e preciso.

A Barraca dos Leilões era um espetáculo! Ao lado das prendas a serem leiloadas, eram acomodados os músicos da “Furiosa”, a nossa ótima Banda. O leiloeiro era o indefectível Ismael Palhares, congregado mariano, elegante no traje e nos gestos, nosso ferreiro Ismael dava o tom solene que enobrecia as leitoas, os frangos, os perus, os cabritos, deliciosos assados que eram preparados pelas senhoras encarregadas pela Igreja. Os animais eram doados por cidadãos da cidade e do sítio. Além dos frangos, leitões, cabritos, perus, doavam também bezerros, garrotes, novilhas, burros, mulas e até bois, que eram arrematados no grande Leilão de Encerramento, no dia da grande festa, dia 15 de agosto!, dia santo de guarda, feriado municipal.

A Barraca dos Leilões e a barraca-bar, uma e outra apresentavam shows com artistas locais. Destacavam-se na época, anos 40 até meados dos 50, os Irmãos Fortuna, José e Alcides, dupla maravilhosa que encantava o público com as modas mais famosas na época e com as composições do José Fortuna, que já despontava como o grande poeta da música caipira, divulgado pela dupla na Rádio Record de São Paulo já como “Os Maracanãs”. Estes moços deram enormes alegrias ao povo itapolitano com seu enorme prestigio nacional e com o estrondoso sucesso das versões de “Índia” e “Meu primeiro amor”, que o José Fortuna teve imortalizadas pela duo Cascatinha e Inhana, de eterna lembrança de nós, brasileiros!

Muitos namoros, que acabaram em casamento, tiveram início nos bilhetes que se trocavam entre os flertes, pretendentes a namorados, com declarações de amor que as meninas do Correio Elegante tratavam de entregar cá e lá, nas mesinhas da barraca-bar.

Grande Festa de Agosto! Orgulho dos maiores do povo de nossa terra!