Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Reminiscências

Na minha mais tenra Itápolis tinha uma banda! Quando ela se reunia no centro da praça Pedro Alves de Oliveira, naquele coreto majestoso, gradeado com ferro retorcido formando liras a homenagear a divina música, o povo ao seu redor aguardava em silêncio o início da retreta!

Era um silêncio de profundo respeito, até mesmo as crianças permaneciam mudas à espera do seu toque! De repente uma verdadeira explosão de pratos e bumbos e caixas, um enorme susto precedia a melodia harmoniosa executada por aqueles homens simples da nossa velha cidade. Por causa da entrada repentina e barulhenta, nossa banda recebeu o carinhoso apelido de “A Furiosa”! Sob a batuta do maestro Rafael Mercaldi, as clarinetas, os trombones, os bombardinos, os saxofones, os oboés, as flautas e os flautins, os pistons tocados por homens que podiam ser alfaiates, sapateiros, padeiros, oficiais de  justiça, cartorários, e tantas outras profissões, o que tornava aquela banda uma corporação essencialmente popular. E como tocava bonito!

Na minha infância mais remota eu cheguei a ver os enterros à moda antiga, com cavalos pretos, de longas crinas brilhantes, regiamente adornados, abrindo o cortejo, montados por  elegantes guardiões, paramentados em gala. Outros cavalos do mesmo porte puxavam o carro fúnebre,que era seguidos pelos parentes e amigos do falecido, todos vestidos totalmente de preto, a caminhar circunspetos ao som da corporação musical, que executava a marcha fúnebre! Era uma cena impressionante, que ficava por dias em nossas retinas. A gente, mesmo pequeninos, conhecia os vários toques dos sinos da Matriz. Conforme as badaladas, conforme o ritmo das batidas, a gente sabia se era chamada para a reza, para o terço, para a missa, para anunciar a consagração da hóstia ou para anunciar a entrada ou a saída de um enterro.Os sinos de nossa matriz tinham um som encantador, motivo de orgulho dos itapolitanos.

A mesma banda seguia a procissão do enterro de Nosso Senhor Jesus Cristo, na Sexta-feira Santa, tocando marchas lentas e tristes.Mas não era só tristeza que levava a “Furiosa” a tocar. A chegada de pessoas ilustres e famosas, no trem da Douradense, era motivo para a banda se postar na plataforma da estação e, na chegada  dos passageiros, marchas alegres eram executadas. A banda era o toque do incomum, da novidade, fosse ela triste ou alegre.

Com a chegada do gramofone, movido à corda, com o advento do alto-falante, a banda foi deixando de ser o som de todos os eventos.

Mas a velha Itápolis tinha também uma orquestra, o Jazz-band, que tocava no Clube Literário e Recreativo, que funcionava num prédio situado ao lado da casa dos Sr. Gisberto La Laina e quase em frente o Cine Centrral. O clube tinha uma espécie de galpão à direita de que olhava pra ele, onde eram realizados os bailes e as brincadeiras dançantes. Lembro-me bem quando passaram a tocar os fox e begins das orquestras famosas de Holywood, como a de Glenn Miller e sua ’Moonlight serenade” que se dançava de rosto colado. Ouvia-se de longe o piston, estilo Harry James e os improvisos à moda de Louis Armstrong. Mais tarde surgiu o som alegre e ritmado da orquestra de Xavier Cugat, com suas congas, seus mambos.

Moacyr Ribeiro, responsável pela programação da Rádio difusora

Na minha juventude a cidade, ao entardecer, costumava ouvir o som das marchas de abertura do Serviço de Alto-falantes de Itápolis, que ecoava pelos quatro cantos de suas quadras e ruas. O Serviço de Alto-falantes durou anos e significou muito para os moradores da cidade. Por ele se sabia das notícias, dos casamentos, dos falecimentos, por ele sabíamos quem estava apaixonado(a) e por quem!

 

Aí chegou a ZYQ4, Rádio Difusora de Itápolis,  Os Brunelli, seus proprietários trouxeram para instalá-la e montar sua programação, o radialista de Piracicaba Sr. Moacyr Ribeiro! E foram muito felizes na escolha, pois o homem era um expert, criou um programa de auditório, que era levado ao ar aos domingos à noite, programa que eletrizou a cidade, o auditório ficava superlotado. Outro programa criado pelo Moacyr , que também era um excelente locutor, era o “Sempre no meu coração” que ia das 8 às 11 da manhã, tocando músicas românticas que eram ofertadas pelos ouvintes, às suas namoradas ou namorados. Depois da Ave Maria, às 6 da tarde, seguida de uma mensagem declamada pelo padre de plantão, entrava o programa de músicas clássicas, chamado “Concerto ao entardecer”, por onde aprendi a gostar do Concerto nº 1, para piano e orquestra, de Tchaikovsky, a adorar o “Traumereis” de Schumman, a “Ave Maria” de Gounod, a suave “Serenata” de Schubert, a Sinfonia nº 6, a Pastoral, de Beethoven. A gente ouvia estas jóias musicais na hora do crepúsculo, bem na hora do jantar.

Silvio Caldas o maior seresteiro do Brasil

Que saudade me vem daquela Rádio que a gente amava, daqueles locutores que a gente aplaudia, dos programas de calouros, dos programas de música italiana, com as cançonetas napolitanas  de Carlo Buti, com a famosa “Strada del Bosco” com Gino Becchi, com os classicos “Sole mio”, “Cuor’ingrato”, “Torna a Surriento”, “O Marechiaro”, “Reginella campagnola”  e tantas outras, que todo mundo sabia de cor. E quando chegaram os mexicanos com seus boleros! Foi uma febre na cidade! Que sucesso faziam  Pedro Vargas, Luiza Landin, Trio Los Panchos, Fernando Borel, o padre José Mojica com o seu “Jurame”. Minha Itápolis sempre foi pra mim um berço de canções, um sopro constante de melodias. Até hoje, quando me lembro desta minha terra querida, voltam-me aos ouvidos as serestas do Silvio Caldas, do Orlando Silva, as valsas do Carlos Galhardo, “Solamente una vez” do Trio Los Panchos, “La cumparsita” de Francisco Canaro, “Fumando espero” de Libertad Lamarque. Mágicas melodias que povoavam os céus da minha terra de menino e de rapaz.  E aquela banda maravilhosa nas retretas do coreto.Eu acho que é isto que a gente vai encontrar lá no ceu! Tomara!Que saudade me vem daquela Rádio que a gente amava, daqueles locutores que a gente aplaudia, dos programas de calouros, dos programas de música italiana, com as cançonetas napolitanas  de Carlo Buti, com a famosa “Strada del Bosco” com Gino Becchi, com os classicos “Sole mio”, “Cuor’ingrato”, “Torna a Surriento”, “O Marechiaro”, “Reginella campagnola”  e tantas outras, que todo mundo sabia de cor. E quando chegaram os mexicanos com seus boleros! Foi uma febre na cidade! Que sucesso faziam  Pedro Vargas, Luiza Landin, Trio Los Panchos, Fernando Borel, o padre José Mojica com o seu “Jurame”. Minha Itápolis sempre foi pra mim um berço de canções, um sopro constante de melodias. Até hoje, quando me lembro desta minha terra querida, voltam-me aos ouvidos as serestas do Silvio Caldas, do Orlando Silva, as valsas do Carlos Galhardo, “Solamente una vez” do Trio Los Panchos, “La cumparsita” de Francisco Canaro, “Fumando espero” de Libertad Lamarque. Mágicas melodias que povoavam os céus da minha terra de menino e de rapaz.  E aquela banda maravilhosa nas retretas do coreto.Eu acho que é isto que a gente vai encontrar lá no ceu! Tomara!