Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis XV

Fachada do Ginásio Estadual e Escola Normal, depois Prefeitura Municipal e hoje Centro Cultural

Na minha mais tenra Itápolis, anos 30, quem concluía o Grupo Escolar podia disputar uma vaga no Ginásio Estadual e Escola Normal de Itápolis; bastava pra isto ser aprovado no Exame de Admissão, uma espécie de vestibulinho, que era realizado no mês de janeiro de cada ano. Não era fácil ingressar naquele ginásio que tinha 5 séries, durava cinco anos e tinha no seu currículo, além das disciplinas básicas, matérias como Química e Física, e o aluno podia optar por um língua estrangeira além das regulares (o Inglês e o Francês). Conforme a disponibilidade de cada estabelecimento, podia escolher entre o Alemão, o Italiano e o Espanhol. As disciplinas de Português e Matemática tinham uma carga horária semanal de 4 aulas obrigatórias. Além delas, o aluno recebia aulas de Latim, Ciências Naturais, Geografia, História, Trabalhos Manuais e Prendas Domésticas. Acrescente-se a esta grade disciplinar a aula semanal de Religião.

Não se usava chamar as matérias de disciplina, dizia-se cadeira. O professor Marão, por exemplo, era o titular da Cadeira de Matemática. As aulas duravam 50 minutos e se fazia um intervalo de 10 minutos entre uma aula e outra, tempo suficiente para os serventes apagarem as lousas  e darem uma geral nas salas de aula, e também para que os alunos tivessem  um “refresco”.

Naquele tempo, o aluno era avaliado de várias maneiras e diversas vezes durante o ano letivo. Para começar, cada professor realizava uma prova escrita e outra oral, por mes. Eram chamadas de sabatina. “Hoje vai ter sabatina de geografia” dizia o aluno. Além destes dois tipos de avaliação, o professor passava tarefas para casa. No mes de junho, todos os alunos eram submetidos a exames escritos e orais de todas as matérias. A média exigida para se dizer “Passei!”  era 5,0.

No mes de novembro, o aluno era submetido novamente a exames escritos e orais de todas as matérias. E a média dos 2 exames e das notas das sabatinas mensais, eram o parâmetro para que o aluno fosse admitido nos Exames Finais de Dezembro, exames escritos e orais.

Então veja bem: o aluno tinha que batalhar, durante o ano todo, pra entrar no “juizo final”, que eram os exames de dezembro; Ninguém “fechava” antes de dezembro A média para aprovação era sempre 5,0 e quem não atingisse ia para a 2ª época, novo  período de provas que se realizava no mes de fevereiro. Mas tinha um limite para ir para a 2ª época: só ia o aluno que ficasse reprovado em até 2 matérias. Se ficasse em 3 matérias, era reprovação sem dó nem piedade. Também se fosse reprovado em uma matéria na 2ª  época, estava reprovado! Repetia  o ano! O “repetia de ano” como era comum dizer.

Este era o regime de avaliação dos alunos naquela época, processo que foi mantido mesmo depois da reforma de 1938, quando se reduziu a duração do ginásio de 5 para 4 anos e foram criados os cursos do Colegial (Clássico e Científico). Com a reforma eliminou-se a oferta de uma terceira língua estrangeira, as cadeiras de Química e de Física saíram do currículo do ginásio e passaram para o Curso Científico, do Colegial. O Curso Científico englobava as matérias ligadas às ciências exatas, como matemática, física e química, enquanto que o Curso Clássico, reunia matérias ligadas aos conhecimentos humanísticos, como línguas e literaturas, latim, grego, conhecimentos ligados à arte. O Científico vinha para preparar futuros médicos, engenheiros, dentistas, farmacêuticos, agrônomos, veterinários, profissões que exigem conhecimento científico, enquanto o Clássico prepara os pretendentes à advocacia, filosofia, sociologia, artes.

Se não me falha a memória, Itápolis ganhou seu curso de nível colegial no ano de 1947. Nesta época, nossos vizinhos como Ibitinga, Borborema, Novo Horizonte, Itajobi e Tabatinga, ainda não tinham nem o Ginásio. No ano seguinte, faleceu prematuramente o nosso deputado Valentim Gentil, então presidente da Assembléia Constituinte de São Paulo e, através do Decreto-Lei nº 20.405, de 05 de abril de 1951, passou a denominar-se Colégio Estadual e Escola Normal "Valentim Gentil" e, pela Lei nº 4.751, de 23 de maio de 1958, se transformou no Instituto de Educação "Valentim Gentil",  orgulho desta terra, que agora completou 80 anos de existência!

A supressão dos exames de junho, das provas orais, acrescida da invenção do fechamento das notas, na minha modesta opinião de professor, foram fatores de grande importância na queda vertiginosa do nível de aprendizado das escolas de nível médio, oficiais ou particulares.