Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Família Compagno"

              O amigo mais chegado de meu pai, que eu conheci já entrado em anos, era um homem generoso, dedicado à família, honesto, confiável e leal nos negócios e, acima de tudo, humilde, apesar de ser um homem de posses, de ter sido, no passado, um vitorioso comerciante. Acompanhado de sua mãe, Signora Celeste e de seu irmão Carlos, o menino Antonio, aos 11 anos de idade, atravessou o oceano, deixando a Itália em busca de uma nova vida, de um sonho.  Guiado pela “mamma”, uma guerreira incansável, o menino  tornou-se o cidadão Antonio Compagno.

 

Jantar em homenagem ao Deputado Estadual, Dr. Eduardo do Amaral Lyra

1-Dª Maria de Lourdes Ramos Covizzi, 2-Dr. Anésio Borghi Covizzi, 3-Victório Santarelli, 4-Adauto Mergulhão, 5-Antonio Righero, 6-Janes Francisco de Mello, 7-Mazzini Stella, 8-Geraldo Arruda Lemos, 9-Rubens Francisco de Arruda, 10-Antonio Compagno, 11-Vicente Nigro

           Trabalhador, empreendedor, o jovem ativo logo conheceu a jovem Carmella, com quem iria formar uma grande família. Dona Carmella que, se não me engano, pertencia à família Stella, também muito conceituada naquela tenra Itápolis, transformou-se num dos esteios da construção do sonho dos Compagno, sendo uma companheira valiosíssima de sua sogra, Dona Celeste.

            Depois de muita luta, Antonio Compagno transformou-se num conceituado comerciante, construiu vários imóveis nos terrenos adquiridos na região da Rua José Bonifácio, atual Rua José Trevisan, onde fez sua morada, numa casa confortável, conjugada com sua primeira loja. Mais tarde, em terreno fronteiriço à sua loja, construiu um prédio comercial de grande porte onde instalou sua grande loja, a Casa Compagno, que mais tarde, quando o Sr. Antonio se aposentou da vida de comerciante, ali se instalou a primeira Casa Wady, dirigida pelo libanês Wady Abdelnur, que trouxe para nossa cidade os irmãos Nassri e Fuad. Naquela mesma quadra, no sentido da av. Florêncio Terra,  o Sr. Antonio Compagno construiu mais uma casa que foi a residência de sua filha Celestina, esposa do Juiz de Paz, Paulo  Rodrigues Silva e mãe do Antoninho, que deixou viúva tão precocemente a querida Odete Tarallo; a outra filha, a Mariazinha, foi minha colega de Escola Normal, aliás, brilhantíssima aluna. Entre a grande loja e a casa da família Compagno-Rodrigues, numa construção menor, funcionou, por muitos anos, a oficina de torneiro mecânico do lendário Pazziani.

            Além da Celestina, o casal Antonio e Carmella teve os seguintes filhos: Nicolina, casada com Paulo Schultz* Jr,  Josephina, casada com Joakim Faria, Ana, casada com Roberto Del Guércio, Octávia, casada com René Mallet Cyrino, Antonia, casada com Henrique Eichel e Dante, casado com Oneide Tombi. Destes sete filhos, dois deles ganharam mais evidência na nossa cidade. Primeiro destaco a Ana, conhecida como Nina, que foi companheira valiosíssima de seu esposo, o comerciante e jornalista Roberto Del Guércio, diretor e redator do tradicional jornal “O Progresso” e dono da Livraria e Papelaria Del Guércio, que funcionavam num prédio da Av. XV de Novembro, atual Valentim Gentil, defronte à quadra de esportes do Ginásio, onde hoje funciona um órgão municipal. Nina Compagno era o esteio das duas empresas de Roberto Del Guércio. Vi-os em atividade constante, sempre aliados tanto no jornal quanto na papelaria, assim como vi crescer o menino Álvaro.

1-Euclésio Loddi, 2-Nilton Robert Próspero(Ditão), 3-Jefferson de Castro Ferraz, 4-n/indent., 5 Dante Compagno, 6-Idiomar Semeghine, 7-Tarquínio Bellentani

            O único filho homem de Antonio Compagno, Dante, formado em Engenharia, seguindo os passos do pai, que foi cidadão de destaque na vida pública, tornou-se Prefeito Municipal, tendo sua gestão durado de janeiro de 1960 a dezembro de 1963.

            Quando privei da presença do Sr. Antonio Compagno em minha casa, amigo de jogo de cartas, truco, 3.7, padrone e sotto, companheiro de pescaria de meu pai, dono de uma fazenda de café no bairro rural da Onça, vendo aquele homem simples, sem pose, atencioso com as crianças como eu e meus irmãos, andando de terno de brim cáqui, naquele fordinho pé-de-bode verde-escuro,  nunca podia imaginar que ele foi vereador, foi também um dos fundadores do conceituado Hospital de Misericórdia, e ainda tornou-se seu provedor. Agora, pensando bem, não me lembro  de ter visto o Sr. Antonio Compagno nenhuma vez, sem que estivesse de terno, fosse na rua, na casa dele, até mesmo pescando na beira do Ribeirão dos Porcos.

            Foram estes tipos de exemplos de homem, que ajudaram a forjar a minha personalidade, buscando manter a humildade e a simplicidade, mesmo quando tive funções consideradas de destaque perante os meus semelhantes. Na minha vida na terra natal pude conviver com pessoas que nunca se entregaram aos encantos da vaidade e da soberba. Homens como Dr. Mario Gentil, Prof. José Toledo de Mendonça, Toninho Vessoni, o Ricieri das placas da rua, Vicente Cacini, Tarquínio Belentani e tantos outros cidadãos da minha mais tenra Itápolis, onde viveu, labutou e construiu, o Sr. Antonio, o chefe da família Compagno (leia-se Companho).

*Tenho dúvidas sobre a grafia deste sobrenome.