Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Família Camurri"

            Alguém de menos de setenta anos de idade sabe o que é, melhor dizendo o que era um “folheiro”? É difícil encontrar quem saiba. Este tipo de profissional sobreviveu até meados dos anos 40, depois foi-se convertendo em metalúrgico.

            “Folheiro” era aquele homem que fabricava canecas, canecões, regadores, torradores de café, castiçais, lamparinas, candeias, funis, raladores de queijo, e outros utensílios auxiliares da dona de casa. Por fabricarem funis, muitos os chamavam de funileiros. Eram artesãos, dizer que fabricavam é um pouco impróprio, este verbo lembra indústria. Eles faziam utensílios domésticos e sua matéria prima eram as folhas. A mais usada, porque mais barata, era a folha de flandres”, nome pomposo para um material bem simples. Eram folhas finas e flexíveis, galvanizadas, com que eram fabricadas as latas para embalar óleo de cozinha, bolachas, banha animal, leite em pó, fumo para cachimbo, pomadas e outros.

             Por que folha “de flandres”? Porque, inicialmente, elas eram importadas da origem, a cidade de Flandres, na Bélgica. Outro material que usavam eram as chapas de aço, de várias espessuras.

            Na minha mais tenra Itápolis havia vários folheiros. Meu pai era um deles. Era um artesão, fazia os utensílios ali na mão. O Sr. Reinaldo Guandalini era também um deles e se especializou em fabricação de calhas e condutores para construções, usando as folhas de flandres e o zinco. E havia um folheiro conhecido na família Camurri. Isto me reporta à grande amizade que meu Nono, Nicola Nigro, que também era folheiro tinha com uma família de oriundi, os Camurri. O casal Stéfano e Luzia Calsolares Camurri, vindos de Mantua, ao norte da Itália, costumava trocar visitas com o Nono e a Nona. Esta amizade perdurou e se estendeu aos descendentes brasileiros do Sr. Stéfano e do Nono. Lembro-me bem que meus irmãos mais velhos mantinham amizade com os Camurri.

            Esta descendência foi rica em quantidade e em qualidade. A família aumentou muito e o conceito de todos o melhor possível: gente honesta, trabalhadora, cidadãos honrados e, sobretudo, tementes a Deus. O caçula dos filhos do casal, vindo da Itália com 8 anos de idade, João Camurri que teve os irmãos Antonia casada com Cenofonte Trazzi, Margarida, Dezolina, casada com Rogério Bragatti e Palmira, casada com um rapaz da família Gigliotti, formou uma grande família, nada menos que oito filhos: pela ordem, Cezarino, Jesus-o Juca, Orestes, Florisbelo, Fiore,  Helena, Carolina, Stéfano e Luzia. O mais velho, Cesarino, casou-se com uma filha do querido Chico Torre, a Maria Gracia. Eu o conheci trabalhando na marcenaria do Olympio Próspero, de onde saiu depois de muitos anos para ter sua própria oficina e ser considerado um profissional de excelente qualidade, um exímio marceneiro. Cesarino e Maria Gracia tiveram cinco filhos: Teresa, Adalberto, Meire,  Maria Aparecida e João Antonio.

 

O segundo filho de João Camurri, Jesus, conhecido como Juca era muito popular na cidade, por ter uma perna de pau. Lembro-me bem dele, com seu chapéu, caminhando com desenvoltura ímpar e tendo entre os dedos seu infalível cigarrinho de palha. Juca tinha a mesma profissão de meu pai, era folheiro e um excelente artesão.

Batizado de Jairo César Mapelli - Pe. Ednyr, Maria da Graça, Cesarino Camurri e Meire Camurri Mapel

Juca era casado com Juventina Luciani. O terceiro filho chamava-se Orestes, casado com Otília Ramos; o quarto filho era Florisbelo, o Fiore, casado com uma jovem da família Mocchi, a Maria. A quinta  era uma filha, Helena, casada com Ovídeo Crespaldi; Carolina foi a sexta filha e se casou com Evilásio Mantovani; o sétimo leva o nome do avô, Stéfano, casado com Lourdes Pereira e a caçula, a número 8, Luiza, casada com Augusto Betine.

Toda esta gente boa nasceu numa chácara próxima de onde era a primeira torre da Rádio Difusora, de onde se mudaram para a Av. Dr. Eduardo do Amaral Lyra. Família ligada no trabalho, todos profissionais de ótimo conceito. Além do Cesarino, também Orestes era marceneiro. Fiore e Stéfano eram sapateiros, Helena costurava e bordava e cuidava da casa. Até a Meire, filha do Cesarino, esta nossa amiga tão querida, quando solteira, puxava o fole para esquentar a ferragem e os soldadores. Meire casou-se com Valdemar Mapeli e é a mãe de Alexandre e Jairo César e vovó do Alexandre, da Camila, do Alex e do Alexandre pequeno César,  tataranetos do Sr. Stéfano Camurri e de Dona Luiza Calsolare Camurri, os patriarcas desta linda família itapolitana.