Orestes Nigro
 

Histórias que não foram escritas

 

Diário de Itápolis - Família Brunelli

Ao rever o cantinho em que nasci e me criei, naquela casa que eu acreditava um santuário – acho que todas as pessoas, com raras exceções, santificam  a casa em que nasceram e viveram os jovens anos de suas vidas -  e que já foi escola  infantil, lavanderia, moradia de gente que nunca tinha visto antes, eu me transporto para a minha tenra Itápolis.

E como já disse antes, vou transfigurando a gente de hoje em personagens que pertenceram ao meu mundo dos anos 30, 40. Quando estou na varanda da casa da minha irmã e ouço passos na calçada, espero que passe por ali o Sr. Ângelo Pasquale Brunelli, com seu denso bigode preto, seu cachimbo curvo e bojudo,  indo de volta pra casa,  do escritório da máquina de café do Sr. Carlos Vessoni, onde, pra mim, ele sempre trabalhou. O Sr. Ângelo era um pacato e honesto cidadão, pai de oito filhos, que tinham por ele um respeito e uma admiração que saiam pelos poros. Meu pai dizia, sempre que ele passava defronte à nossa casa, “ o sêo Angelo é o melhor guarda-livros de Itápolis, e um homem de grande valor!”

O Sr. Ângelo Brunelli morava numa casa bem grande, com varanda lateral, do lado esquerdo de quem subia a rua 13 de maio (Ricieri A. Vessoni atual)  da Francisco Porto para a Campo Salles, bem no meio do quarteirão. Quando eu comecei a ser gente e entender as coisas, e já brincava no nosso enorme quintal, no fundo fazíamos divisa com os Brunelli. La estava sempre na lida a Dona Ercília, a simpática e bondosa Dona Ercília Dalmiglio Brunelli, uma italiana alta, clara e muito bonita, que viveu para a família e poucas vezes saiu do universo de seu lar. O Sr. Ângelo e a Dona Ercilia  vieram ainda crianças da Itália, no ano de 1882, século XIX, imaginem. Ele eu sei que veio de Mântoa (Mantova) , região central da Itália, a Dona Ercilia ainda não sei. Naquela altura da minha infância o casal já tinha plantado uma família: a do seu filho mais velho, Mario.

O sêo Mario, como o chamávamos, morava num chalé que eu achava lindo, na Av. Francisco Porto, nossa rua, na altura do 1100 de hoje. Era casado com Dona Clarice Semeghini, irmã do Sr. Júilio, pai da Mercedes, do Percy, do Teodósio, do Aylton e da Romilda. Outro irmão dela era o Sr, Arthur, pai da Iracema, do Idiomar, do Ideval, do Ildenofre e do Ildenor Semeghini. Era a união de duas famílias de significativa importância na velha Itápolis. O sêo Mario e a Dona Clarice tinham um casal de filhos: o Darcy e a Arlete. O Darcy tinha a minha idade e a minha inveja também. Primeiro porque ele era bonito, minhas tias que diziam, tinha olhos verdes e cabelos cor de mel e  também porque tinha um pai maravilhoso, que o tratava com carinho, que passava pela nossa calçada conversando com seu filho como quem conversa com um amigo, coisa raríssima naquela época, senão eu não teria inveja dele. A Arlete era ainda muito pequena, menina robusta e rosada, uma graça que exibia sempre um sorriso cativante. Eram os primeiros netos da Sr. Ângelo e de dona Ercília., que tinha um irmão que morava com eles naquela casa hospitaleira, o Atílio, era  tão integrado aos Brunelli que isto lhe valeu  o sobrenome. O Atilio, que era Dalmiglio, como Dona Ercília, era conhecido na cidade, na Banda Municipal onde tocava o bumbo, como Atílio Brunelli., figura querida, palestrino  apaixonado.

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Eu ainda pude ver se casarem todos os outros filhos do Sr. Ângelo. A Amélia, filha mais velha e exímia costureira, casou-se com o mecânico Edésio Montanari; a Lydia casou-se com Antonio Nicolau Del Guércio, o popularíssimo Toninho. Foi dono do emblemático bar Boulevard Itápolis, mais tarde do Cine Theatro Central, e com a desativação deste, construiu e geriu o Cine Lyan (Ly de Lydia, na de Antônio), Lydia, como sua irmã Amélia, não teve filhos.  A  Nena, registrada como Ada Maria, quem imaginaria?,  casou-se com  Jeferson de Castro Ferraz, que foi gerente da ZYQ4, Rádio Difusora de Itápolis. Nena e Jéferson tiveram um filho, Antonio Ângelo Brunelli Ferraz.   O Tito (Armando) casou-se com a Páscoa , filha do Sr. Vitório Renesto e o casal teve um filho, Armando Brunelli Jr. Tenho muita coisa pra falar do Tito, vocês vão ver, na segunda parte desta minha crônica.

Renato Brunelli, o jovem que faleceu aos 24 anos, vítima de acidente quando pilotava um Teco-Teco

Eu fui ao casamento da Ida, uma gracinha de criatura, que se casou com o Feres, popular radialista que enriqueceu, com seu trabalho, a nossa querida ZYQ-4. A Ida perdeu a vida jovem ainda, 34 anos, quando presenteava o Sr. Ângelo e Dona Ercília  com um netinho, o

 

 Renato. Renato recebeu este nome como homenagem ao Renato Brunelli, filho de Ângelo e Ercília, criatura de incrível inteligência, que faleceu jovem ainda, aos 24 anos, quando o Teco-Teco de prefixo PP-RJJ que pilotava caiu, no momento da aterrissagem, em terras da fazenda do Ciniro Massari. Do Renato também temos muita coisa a relatar.

Por último tivemos a união da filha mais nova, a Dione Josephina, que todos chamávamos de Dionê. A filha mais parecida com a Dona Ercilia, Dionê casou-se com o único filho do comerciante Primo Zagatti e de Dona Justina (Tina) Dinardi, irmã de minha adorada tia Maria, viúva do tio Roque. Este filho é o Octávio, o Tavinho, contabilista. Ambos tiveram três filhos, o Octávio José, a Ercília Maria e o Ângelo José.

O Sr. Ângelo e Dona Ercília deram início a uma família numerosa, já com quatro gerações. Se estivessem vivos estariam por certo recebendo o carinho de seus 18 bisnetos, netos e netas dos avós Mário e Clarice,Tito e Páscoa, Nena e Jéferson, Ida e Fares, Dionê e Tavinho Vejam que turminha boa: Maria Cristina, Ana Lucia, Maria Alcina, André, Bruna, Ângela, Jeferson Josias, Ana Beatriz, Roberta, Marcos, Leandro, Marcelo, Lívia, Laís,Letícia, Lucas e Larissa.

A família Brunelli é numerosa, citá-los deu como resultado a primeira parte de minha crônica sobre esta gente, brava gente tão importante para nossa querida terra. No próximo número deste Diário, tecerei comentários e detalharei as importantes contribuições que esta verdadeira família deu a Itápolis