Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

"Quase um Brinquedo"

             Hoje peço sua licença para ocupar este espaço com um tema estranho à história dos anos 30,40 e 50 de nossa querida Itápolis. É que eu percebi, diante da reação de certos leitores e de certas pessoas e grupos familiares que me dão a honra de sua leitura, que, apesar de reiteradas explicações por mim oferecidas, seja em crônicas, seja por e-mails, ainda não assimilaram bem a minha intenção e os ângulos de minhas abordagens expressos nos meus escritos.

            Vamos falar do começo. A ideia de escrever e publicar estas crônicas surgiu durante o fecundo período que antecedeu a comemoração oficial do 80º aniversário do nossa conceituada instituição de ensino, o “Valentim Gentil”, que já se chamou ginásio, escola

Lucas Gentil, um dos grandes responsáveis pelo Encontro dos 80 anos do Valentim Gentil

normal, colégio, instituto de educação, e hoje recebe a sigla padronizadora de EEPSG. O leitor há de se lembrar que foi criada, se não me engano no início de 2009, uma página (Arquivo VG) no Orkut, rede social da internet, para recolher material fotográfico que ilustrasse passagens, eventos, atividade de nosso velho Valentim Gentil. Foi uma iniciativa digna de nossa admiração, de um grupo de jovens itapolitanos, liderados por Lucas Mendonça Gentil, que foi muito bem recebida pelos itapolitanos, tanto os que vivem na cidade, como os que vivem longe dela: um sucesso! Um sucesso que deu a base para uma festa comemorativa original e inesquecível, durante a Semana da Pátria de 2009.

            Este movimento cívico e cultural despertou em todos nós, filhos e moradores de hoje e de outros tempos, uma espécie de revalorização de nossa terra, um chamado ao reencontro de pessoas e de lembranças e reacendeu o amor e o carinho pela cidade, que vivia abafado por nossa lida diária, por nossos interesses distantes deste tipo de sentimento.

            Avisado sobre a criação do “Arquivo VG”, título da página do Orkut que já mencionei, passei a ser assíduo frequentador da nova criação. E vi minha memória reacender figuras do passado que me foram tão gratas. Com uma organização genial a página conduzia a gente pelos corredores, pelas salas, pelo pátio, pelas quadras esportivas da nossa querida e saudosa escola, nos seus diversos prédios que lhe serviram de abrigo. E como o Orkut oferece a todos a possibilidade de postar comentários, não resisti à tentação. Meus comentários mereceram a atenção do grupo organizador do movimento e logo tive a oportunidade de contato com o Lucas. Este moço que considero uma fonte de boas ideias e de amor à terra natal, me pediu primeiro que o autorizasse publicar no “Diário”, alguns dos meus comentários, mais tarde, o mesmo Lucas, me sugeriu escrever estas crônicas que hoje passam de 160.

            Não foi minha a ideia da crônica semanal. Não fui eu que escolhi o jornal para publicá-las, nem fui eu que pedi ou sugeri que o Valentim Baraldi as reproduzisse da forma brilhante como faz em sua revista virtual. Nunca tive em minha vida de professor universitário a mais leve intenção de me tornar um historiador. E não sou historiador, sou um cronista. E a crônica é um gênero literário caracterizado pela leveza de sua forma, pela busca do pitoresco, pela visão subjetiva do autor. Quando abordo um acontecimento que presenciei, dou a ele minha interpretação pessoal, isto é da natureza da crônica; quando escrevo sobre uma família itapolitana, falo dela baseado naquilo que dela conheci, no tempo que vivi e convivi com ela. Não me cabe mencionar registros factuais aos quais nunca tive acesso. Se omito membros dessas famílias isto acontece porque talvez não os tenham conhecido, não sejam da minha época. Não é obrigação do cronista a precisão, a relevância do aspecto histórico. Melhor mesmo é considerar meus textos como “estórias”, deixemos de considerá-los “história”. 

            Eu não considero minhas crônicas como obra de peso, são para mim uma espécie de “brinquedo”, um “scherzo” como os antigos músicos chamavam suas “brincadeiras” ao cravo, ao piano, ao violino. Não mais que isto!

Lilia, Malaquias, Rubinho Guzzo e Capacete, os participantes do 1º. bate papo sobre histórias da cidade

Flávio Morais, o mediador do encontro

A única coisa importante que, na minha opinião, minhas crônicas produziram, foi despertar nos itapolitanos o interesse pelas “estórias” de nossa Itápolis. Foi  uma alegria para mim deparar com páginas dedicadas à memória da cidade no jornal “O Cidadão”, que circulou por um tempo, como é gratificante ler a página do Walson Gardelin no Facebook, nas quais retrata com maestria, passagens de suas lembranças da terra pedrense. Recebi do Valentim Baraldi, tempos atrás, um vídeo contendo um bate-papo entre  pessoas da cidade, Rubinho Guzzo, Maria Lília Cogo Maciel, Valentim Bruderhausen(Capacete) e Oswaldo Malaquias, sob a coordenação do jornalista Flávio Morais e filmagem de Val Produções, no qual os participantes relembram e descrevem, com riqueza de detalhes,  figuras notáveis do folclores itapolitano. Tudo isto tem um único sentido: todos nós, que fazemos isto, mais as pessoas que nos ajudam, somos um tributo de amor a esta terra.

            Espero que tenha ficado bem claro a todos a origem, a intenção, o significado desta página  que a Izilda Reis, com sua visão de jornalista ousada, me disponibilizou, acolhendo a proposta do nosso querido Lucas.