Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Família Branco Peres

No tempo em que nesta boa terra eu vivi, muitas eram as pessoas que, como relatei na crônica passada, embora sem títulos e sem “pedigree”, se projetaram na vida da cidade, tornando-se senão muito amadas, ao menos muito comentadas.

O jovem Deolindo também gostava de futebol

Jogo entre solteiros e casados - Equipe dos solteiros:

Em pé,da esquerda para a direita: Rubens Bottini, Iracy Tucci, Rubens Negrão, Ludovico Del Guércio, Camilo Mucari, Lili de Mundo, Abílio Scaramuzza, Zito Negrão, Vitório Salin Haddad e funcionário do Banco Comercial
Agachados, da esquerda para a direita: Sendão, Piano, Ranulfo Mascari, Deolindo Branco Peres, Luiz Amoroso, Dr. Romeu Stella, Straim, Waldemar Monteiro e Araldo do Amaral Arruda

Lembro-me bem do nosso vizinho, Sr. Ernesto Branco, que morava a um quarteirão e pouco mais de nossa velha casa da Francisco Porto. Eram três os membros da família, o pai, a mãe e um único filho. O Sêo Ernesto, como era chamado trabalhava com sua carroça no transporte das sacas de café já beneficiado desde a máquina do fazendeiro Carlos Vessoni até o depósito que este mantinha  na esquina da Francisco Porto com a Bernardino de Campos, na verdade um anexo de seu casarão, que comportava até um terreiro para secagem do café em coco. Concluída a jornada de trabalho, sempre sobrava tempo para um bate papo ao Sêo Ernesto, sempre bem educado, cavalheiresco e boa pinta.

 

O casal tinha um único filho, o Deolindo, que cresceu ali no nosso bairro, cursou o Grupo Escolar, o Ginásio (lembro-me de vê-lo passar uniformizado com a farda cáqui dos ginasianos de então) e logo pegou no batente. Foi por um bom tempo balconista da Casas Pernambucanas, que funcionava, nos anos 30 e 40, na loja onde é hoje “Ao Preço Fixo”, mais precisamente, na esquina da Valentim Gentil com a Rio Branco. O gerente das Pernambucanas de então, era o Sr. João de Campos, mineiro pacato que era meu tio por ter-se casado com uma das irmãs de minha mãe, a tia Loreta. Tio João era fissurado em caju e como no nosso quintal havia 3 cajueiros que carregavam durante a safra, ele era freguês assíduo de nosso quintal. E lembro-me bem que, quando minha mãe lhe perguntava como ia a loja, ele sempre dizia “vai bem, principalmente agora que temos o Deolindo como vendedor! Campeão de vendas!” A moça da Caixa era minha prima Abgail Sene, filha mais velha da Sebastiana e do Chico Sene, “camarada” da Prefeitura.

 
Dª Maria Aparecida Bonilha Santarelli ao lado do Casal Wanda e Deolindo Branco Peres

Já no início da década de 50, quando já ia longe o tempo de gerente do tio João, o Deolindo (a gente o chamava, na verdade, de Diolindo), abriu uma pequena loja, Casa São João, em sociedade com o Neme Nagib Cury, casado com Georgete, filha da dona Maíba, num prédio pertencente ao Sr. Antônio Compagno, ali na esquina da Valentim Gentil com a José Bonifácio, atual José Trevisan. A Casa São João trabalhava com tecidos e confecções e tinha como vizinhos comerciais, a Livraria e Papelaria do Professor Morato, a fábrica de colchões do Próspero, a Casa Wady e a farmácia do Jaci e do Carlito Tucci.

 

Bem, logo depois da abertura da Casa São João, deixei Itápolis para os estudos e a vida aliada à profissão me afastou do convívio cotidiano com meus patrícios. Já estava eu em São José do Rio Preto como professor da Faculdade de Filosofia, quando comecei a ouvir falar numa grande empresa de Itápolis, a Branco Peres. Era o meu velho conhecido e vizinho, o Diolindo (ou era Deolindo?) Branco, que despontava como forte empresário no cenário da agroindústria brasileira. O Branco vinha de seu pai, o Sêo Ernesto, o Peres de sua mãe, uma senhora tão discreta e caseira que nem seu nome era conhecido da maioria dos seus vizinhos.  Como descendentes de espanhóis, usavam o sistema de seus ascendentes que registravam seus filhos colocando primeiro o sobrenome do pai e por último o sobrenome de solteiro da mãe. Diolindo casou-se com  Wanda Januzzi, irmã de um grande amigo e colega professor, o Geraldo e filha de um amigão de meu pai, pedreiro de primeira linha. O filhos do casal já falecido seguem em frente como empresários e certamente têm muito orgulho do pai que tiveram, um moço que trilhou o caminho dos vencedores, de forma discreta, mas competente. A história deste moço é uma das muitas sagas de figuras que desabrocharam em arbustos antes despercebidos.