Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Diário de Itápolis - Aviões!

 

Na minha mais tenra Itápolis já existia um enorme interesse pela aviação, pelos aviões que, de vez em quando, cruzavam nosso ceu. Os menores a gente conseguia ver, como  os bi-motores de menor fuselagem, os teco-tecos. Dos grandes “Constelations”, que voavam na estratosfera, ouvíamos apenas o ronco, que seguíamos pra ver se conseguiamos enxergar a máquina. Em geral eram prateados ou metalizados e refletiam os raios solares, aí sim, eram visíveis.

Eu era um menino  de sete anos de idade quando me apaixonei pelos aviões e pela idéia de voar. Durante aquela inesquecível semana ouvi meu pai falando com entusiasmo  de uma “festa aviatória” que ia acontecer na fazenda do Major Novaes. Major Novaes era uma figura de destaque como fazendeiro que se atualizava nas técnicas de plantio e tratamento  de seu rebanho. Sua fazenda era servida pela estrada que ligava e liga ainda, Itápolis a Itajobi (2011-Fazenda do Dr.Dalmir Semeghini).  Itápolis ainda não tinha um campo de aviação, por isto quase ninguém da cidade tinha tido a oportunidade de ver um avião, também chamado de aeroplano, pousado no chão, ali estava a grande chance. A fazenda ficou lotada de automóveis, de caminhões, de troles, semi-troles, charretes e muita, mas muita gente. E meu pai me levou com ele! Foi a glória!

Stinson vermelho, o avião que embalou meu sonho de pássaro

Conseguimos atravessar no meio daquela multidão e chegamos à beira do pátio improvisado onde estavam enfileirados inúmeros aeroplanos, com suas asas enormes, suas caudas curiosas, suas cabines com janelinhas protegidas por placas de celulóide. Eram de várias cores, de vários tamanhos, de vários formatos e também de várias marcas. Gravei alguma delas: Havia um Stinson vermelhinho, de fuselagem bem robusta, que comparado aos Paulistinhas (Teco-tecos) ofereciam mais sensação de segurança e foi ali, vendo aquela máquina voadora tão valente que brotou em mim o sonho de voar. Havia um Cessna de dois motores que era a vedete da festa.

Terminada a churrascada oferecida pelo Major, seu filho Aldo, com seus óculos raiban conduziu os pilotos até os aviões, instalou-se no dele e começou a exibição que todo mundo aguardava com ansiedade. Primeiro foi pra pista o Cessna bi-motor;  suas hélices levantavam poeira sobre a multidão, mas ninguém reclamava. Protegendo os olhos com as mãos, todos acompanhavam aquela decolagem. Ganhou altura, deu várias voltas sobre a fazenda, deu tres ou quatro rasantes sobre nós e pousou com perícia e garbo. Um por um daquelas aeronaves se apresentou na pista, decolou, exibiu-se e voltou à terra, havia pelo menos uns 20 aviões. Por fim foram decolando um a um, seus pilotos acenando o adeus à multidão, sendo o último do filho do Major,  juntaram-se no ceu, deram dois ou tres giros sobre a fazenda e tomaram seus diferentes rumos, acompanhados pelos nossos olhares extasiados, até desaparecerem no horizonte.

Grande domingo foi aquele, grande presente deu-nos aquele simpático Major Novaes, que acabou plantando ali a semente do nosso aeroclube, onde dois anos depois eu fui com meu pai sobrevoar a nossa Itápolis a bordo de um Stinson vermelho, que aquela tarde de domingo embalou meu sonho de pássaro.