Histórias que não foram escritas

Orestes Nigro

Ano Novo - Festividades de final de ano

Na minha mais tenra Itápolis as festas de fim de ano se centralizavam na programação das igrejas, a católica, a presbiteriana e a cristã no Brasil. Pude, desde garotinho, tomar conhecimento das atividades natalinas das três igrejas porque primeiro, éramos católicos, depois, porque morava conosco a estudante normalista de Tabatinga, Olinda Xavier, presbiteriana convicta e praticante e, por fim, porque também morava conosco um metalúrgico que trabalhava na oficina de meu pai, Itamar Mauruto, que era membro da banda da Congregação Cristã no Brasil. Por esta razão, a programação. As providências para os festejos, tudo nos era informado.

Aprendi que os presbiterianos da época tinham como símbolo principal do Natal, o pinheiro, por isto o templo era adornado com pinheiros de vários tamanhos e o culto era rico de hinos e cânticos, executados por um coral super harmônico, tendo como principal canto natalino o conhecido “Pinheirinho de Natal” As comemorações eram discretas, como aliás todas as práticas religiosas dos presbiterianos.

O Itamar passava horas ensaiando o seu trombone para a apresentação da banda de sua igreja na noite de Natal. Na igreja dos cristãos no Brasil, o que marcava as festividades natalinas eram a grande alegria que reinava entre os “irmãos”, e a distribuição dos pães. Um dos pastores era o Sr. Moreira, operário que morava na rua Bernardino de Campos, na Vila Nova e cujo trajeto pra ir à sua igreja, na rua 13 de Maio, hoje Ricirei Antônio Vessoni, incluía uma passagem pela frente de nossa casa. E era bonito ver o Sr. Moreira, de terno, gravata, o chapéu que lhe dava um ar austero, ladeado por sua esposa e uma penca de meninos e meninas, arrumadinhos e bem comportados, caminhando para o culto. Para mim, aquela imagem, resumia toda a austeridade e devoção dos adeptos da Congregação Cristã no Brasil. A mesma sobriedade e discrição com que passavam o ano inteiro a caminho do culto, se mantinha nos festejos de Natal.

Na Igreja Matriz a alegria natalina já se fazia presente desde os primeiros domingos de dezembro; as missas passavam a ser solenes, cantadas e os paramentos dos frades franciscanos, frei Elias, frei Edwino, frei Nereu, eram de um colorido alegre, onde predominavam o amarelo e o vermelho. Os altares se enchiam de flores brancas, de velas em profusão. O coral, maravilhoso, nos envolvia com seus cânticos festivos e dava à igreja uma aura de amor e alegria que nos emocionava.

A cidade se enfeitava, as lojas eram decoradas tanto no seu interior, quanto na fachada. Os balconistas e os comerciantes distribuíam sorrisos a três por dois.As lojas de brinquedos atraíam as crianças, expondo bem na entrada inúmeros carrinhos, patinetes, velocípedes, bonecas, e inúmeras outras tentações.

Por toda parte que se andasse, ouviam-se o Jingle Bell e Noite Feliz. O relacionamento entre as pessoas ganhava um clima de incomum cordialidade. Era o tal chamado “espírito de Natal” . E eu me perguntava “por que isto não acontecia sempre?” O mundo seria bem melhor, as pessoas mais felizes e tantos males seriam simplesmente eliminados.

E foi vivendo o Natal marcado pela presença dos religiosos da cidade, que se incutiu em mim a visão que guardo até hoje das festas de fim de ano: festa de Deus feito homem, comemoração da vinda ao mundo do menino Jesus, criando para a gente o clima propício para fazermos uma profunda reflexão sobre o que foi este nosso ano de vida e o que poderá ser o ano que há de vir. É o momento para avaliar se tivemos Jesus no coração neste ano que se finda e, se ficou às vezes esquecido por obra de nossas fraquezas e de nosso envolvimento com os bens materiais, disponhamo-nos a lhe reservar o lugar sagrado que queremos que Ele tenha em nosso ser interior.

Se hoje ainda, que não sei, a nossa terra conserva aquele mesmo espírito religioso do Natal de antigamente, agora enriquecido pelo advento de outras igrejas, que esta fé e amor ao Menino-Deus presida todos os momentos do Natal de todos vocês. Se este espírito se perdeu com o passar dos anos, desejo a todos que o Natal tenha vindo com muita alegria, muitos encontros e reencontros, e entre estes reencontros, aquele que há de ser com o Dono da Festa, o Menino Jesus e que o Ano Novo lhes traga tudo o que há de bom e, em dezembro, possamos olhar para trás e ver que vivemos o ano de 2010 como Ele nos ensinou e, assim, nos prepararmos para a chegada de 2011 e aí por diante, até o dia que iremos encontrá-Lo e prestar as contas do que fizemos aqui.