Histórias que não foram escritas

 

 

 

 

Orestes Nigro

 

"O Segredo de Continuar Jovem"

            O tempo já se arrastou, já andou devagar, já andou depressa, já correu e nos dias de hoje, o tempo voa. Há quase três anos atrás, Itápolis comemorava, numa festa inesquecível, os 80 anos de nossa tradicional escola “Valentim Gentil”, este mês a AIA comemora seu cinquentenário de fundação e, em outubro, nossa terra chega aos seus 150 anos de idade. E quantos conterrâneos estarão alcançando seus oitenta, noventa e até cem anos de idade?

            Na nossa tenra Itápolis o tempo andava devagar e tudo se amoldava ao seu ritmo. Parece que as pessoas, as instituições demoravam mais para avançar na idade. Para as pessoas era mesmo bom não avançar muito rápido não, porque elas duravam bem menos do que duram hoje. Passados os 50 anos de idade, homens e mulheres já passavam a serem vistas como velhos. E assumiam essa velhice  nos seus hábitos, nas suas funções junto às suas famílias, nas suas vestimentas, nos seus penteados, até no modo de andar. Passados os 60 anos então, de velhos passavam para velhinhos! Já não se os viam mais pelas ruas com a mesma constância de sempre e parece que encaravam a vida com ares de despedida.

            Naqueles tempos, a mulher,  mais cedo que os homens, abdicavam de seus encantos, de seu charme, amenizavam progressivamente sua vaidade e assumiam atitudes de meras donas de casa, de mãezonas, até se resumirem em vovós. A maioria das mulheres,  com o avanço da idade, se consumiam nas funções domésticas, muitas se anulavam como membros da sociedade. E esta atitude, herdada de seus ascendentes, precipitava sua velhice.

            Os homens resistiam mais tempo ao peso da idade, a ponto de o psicólogo Arrigo Hernandez escrever: “O homem esperneia para deixar de ser adolescente, arrasta por décadas sua dependência à mãe e na falta desta, passa a depender de sua esposa, até para calçar um sapato apertado”. Aliás, isto não mudou grande coisa.

            Naquele tempo ninguém iria imaginar que um dia ia tornar-se comum passar dos 80, que mulheres de 60, 70 anos iam conservar o aspecto físico, o penteado, o modo de vestir-se de uma mulher de 30! Que as futuras avós iam parecer irmãs de suas filhas. Era mesmo impossível imaginar, porque vivíamos num mundo completamente diferente.

            Toda esta mudança tem inúmeras razões: o progresso científico que trouxe em seu bojo a evolução da medicina, os recursos tecnológicos que propiciam maior conforto e comodidade às pessoas; esta evolução também acontece em razão da descoberta, pelas mulheres sobretudo, das riquezas de seu próprio corpo, que as levaram a curtir sua aparência, a investir no seu visual, a se atualizar em questões de moda. Eu até gostaria de poder voltar aqueles tempos e convencer uma das mulheres da família, dessas que já eram consideradas “velhas” aos 50 anos e vesti-la, maquiá-la, penteá-la como as jovens da época e queria ver se o efeito não seria o mesmo que se obtém nos nossos dias.

            Agora, reparem numa coisa: a grande melhora que se deu no homem e na mulher se atem ao aspecto físico. É  a malhação nas academias, são os tratamentos em laboratórios, que tiram rugas, celulites, pés de galinha, joanetes, Porque, no aspecto intelectual, espiritual, cultural a evolução foi insignificante e, em certos aspectos degradante. Afinal de contas, alguma coisa de invejável tem que sobrar paras nossos avós. Viviam menos, é certo, mas seus ouvidos eram agraciados com boa música e protegidos contra os palavrões e a mediocridade; seus olhos eram presenteados com arte verdadeira, com cenários livres de poluentes, e protegidos contra cenas de sangue e  imagens cruéis que os ferem hoje, à toda hora; sua dignidade vivia a salvo das mazelas que a aviltam nos tempos atuais.