Francisco José Santarelli

Memórias Políticas

 

"Democracia e Ditadura"

 

Durante meus oitenta e três anos de vida, tive a oportunidade de conviver intercalando períodos de democracia e por dois longos períodos de ditadura.

Nos primórdios de minha vida, vivenciei cerca de vinte anos no período ditatorial, ou seja, na era Getúlio Vargas.

Durante todo o período de minha infância e juventude, comecei a sentir que a democracia, embora não vivenciada, era de fato o regime ideal. Era, sem dúvida, o melhor que poderíamos aspirar para termos um progresso que atingisse os anseios de toda população.

Comecei minha trajetória política apoiando nosso querido, culto, honesto e capaz, Dr. Valentim Gentil, a deputado estadual.

Privilégio de poucos existentes naquela época, pois tive oportunidade de marcar minha presença fotografando sua campanha.

Guardei essas fotos com carinho e foram aproveitadas e estampadas pelo Jornal da Cidade, da competente jornalista Izilda Reis e também pela internet pelo site www.comerciodeitspolis.com.br  na Seção “Memorial” de nosso amigo Valentim Baraldi, que atualmente, faz um grande trabalho de recuperação do acervo do Museu Histórico e Pedagógico Alexandre de Gusmão.

Sobre a ditadura, aprendi logo que é um regime bom somente para aqueles que participam dela. As razões dos maus políticos trabalharem para implantar uma ditadura são a sua participação nela, em todos os sentidos, principalmente, levando vantagens que dificilmente teriam com a democracia. Devo admitir, porém, que todos os generais presidentes deixaram o cargo sem se enriquecer através dele.

Fui vereador por nove anos, vice prefeito por quatro e prefeito por quatro meses. Convivi com uma democracia plena, pois naquela época os políticos eram respeitados, não tínhamos vantagens que hoje revoltam nossa população, como por exemplo: vereador não recebia subsídios, nem jetons; o mesmo para o vice prefeito, pois só recebia quando substituía o prefeito.

Políticos, deputados, governadores, eram recebidos pelo prefeito, pelos vereadores, pelo provedor da Santa Casa e pela população com o devido respeito que deve ter uma autoridade dessa grandiosidade.

O que falar da última ditadura iniciada em 1964, quando era Governador, Laudo Natel e como seu auxiliar um querido itapolitano, Leão Machado, ocupando cargo semelhante ao de hoje, Secretário da Casa Civil. Usávamos um termo diferenciado, era o mordomo.

Fomos em caravana com o prefeito da época, vereadores e outras autoridades no sentido  de tentar conseguir manter a Estrada de Ferro da Companhia Paulista. Nada feito, pois a decisão era ditatorial. Laudo Natel e Leão Machado nada puderam fazer.

     Gal. Mourão Filho deu início ao movimento de tropas que afastou Goulart da Presidência com a ‘Operação Popeye’, em referência ao seu cachimbo, saindo de Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro para barrar as forças legalistas

Já implantada a ditadura militar, tivemos visita importante do General Mourão Filho, que comandou as tropas de Minas Gerais até o Rio de Janeiro.

Num churrasco na fazenda do prefeito da época, o saudoso Emílio Mucari, ousadamente tomei a liberdade de lhe perguntar:

- É de meu conhecimento que o senhor levou a tropa do Exército Brasileiro na Revolução até o Rio de Janeiro, então, por que não assumiu a Presidência da República?

E assim recebi a resposta:

- Filho, quando lá cheguei, o General Castelo Branco já estava sentado na cadeira de Presidente.

Entretanto, devemos louvar a parte boa da revolução: impediram a implantação do comunismo, melhoraram a comunicação telefônica, televisiva, estradas asfaltadas, pois optaram por estradas de rodagem asfálticas em detrimento das estradas de ferro já existentes.

 

Fui convidado a prestar contas como vereador no início da revolução, apresentando declarações de Imposto de Renda em um período de cinco anos e também de meus familiares.

Carteira do curso do Ministério da Guerra

Convidado, também não sei por qual razão, a frequentar em Araraquara, durante um mês no período noturno, juntamente com o Prefeito e os Juízes de Direito da época, um curso do Ministério da Guerra.

 

A parte que achei boa nesse curso é que pretendiam implantar nas futuras eleições municipais que, se candidato a prefeito ou a vereador, teriam que ser alfabetizados e cursar, obrigatoriamente, cursos para esses cargos.

Acredito que houve injustiças, pois até hoje clamam por reparos dos que as sofreram.

Não tive conhecimento de perseguição alguma por parte dos militares em nossa cidade, mas não nos sentíamos à vontade, havia certa temeridade.

Por tudo, devemos solidariamente, trabalhar no sentido de mantermos nossa querida democracia.